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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Pensamento anarquista x marxista-leninista sobre a organização da sociedade


Historicamente, houve três principais formas de socialismo: o socialismo libertário (anarquismo), socialismo autoritário (comunismo marxista), e  o socialismo democrático (socialdemocracia eleitoral). A esquerda não-anarquista tem ecoado o retrato feito pela burguesia do anarquismo como ideologia do caos e da loucura. Mas o anarquismo, e especialmente o anarco-comunismo, não tem nada em comum com esta imagem. Ela é falsa e criada por seus oponentes ideológicos, os marxistas-leninistas.

É muito difícil para os marxistas-leninistas fazer uma crítica objetiva do anarquismo como tal, porque, por natureza, ele nega todos os pressupostos básicos do marxismo. Se o marxismo e do leninismo, a sua variante que surgiu durante a revolução russa, é considerado a filosofia da classe operária, e o proletariado não pode delegar a sua emancipação para ninguém além de si mesmo, é difícil voltar atrás e dizer que a classe trabalhadora ainda não está pronta para dispensar da autoridade sobre ela. Lênin veio com a idéia de um Estado de transição, que iria "definhar" ao longo do tempo, junto com a "ditadura do proletariado" de Marx. Os anarquistas denunciam esta linha como contrarrevolucionária e pura grilagem de poder. Mais de 75 anos de prática marxista-leninista tem mostrado que estamos certos. Esses chamados "Estados socialistas", produzidos pela doutrina marxista-leninista têm produzido apenas Estados policiais stalinistas, onde os trabalhadores não têm direitos, uma nova classe dominante de tecnocratas e políticos do partido surgiu, e a diferença de classe entre os favorecidos pelo Estado e os não-favorecidos criou privação generalizada entre as massas e outra luta de classes. Mas, em vez de responder claramente a tais críticas, eles concentram seus ataques não sobre a doutrina do anarquismo, mas em determinadas figuras históricas anarquistas, em especial Bakunin, um adversário ideológico de Marx na Primeira Internacional dos movimentos socialistas no século passado.

|Os anarquistas são revolucionários sociais, que procuram uma federaçãocooperativa de comunas descentralizadas, voluntária, sem classes e sem Estado, baseada na propriedade social, na liberdade individual e na autogestão autônoma da vida social e econômica.

Os anarquistas diferem dos Marxistas-Leninistas em muitas áreas, mas especialmente na construção da organização. Eles diferem dos socialistas autoritários em basicamente três pontos: eles rejeitam as noções marxistas-leninistas do "partido de vanguarda", "centralismo democrático", e "ditadura do proletariado", e os anarquistas têm alternativas para cada um deles. O problema é que quase toda a esquerda, inclusive alguns anarquistas, é completamente inconsciente de alternativas estruturais tangíveis do anarquismo, o Grupo Catalisador, o Consenso Anarquista, e a Comuna de Massas.

A alternativa anarquista ao partido de vanguarda é o grupo catalisador. O grupo catalisador é meramente uma federação anarquista-comunista de grupos de afinidade em ação. Este grupo catalisador ou federação revolucionária anarquista se reunirá em uma base regular ou somente quando houver necessidade, dependendo dos desejos da militância e da urgência das condições sociais. Ele seria composto por representantes dos grupos de afinidade ou os próprios grupo de afinidade, com plenos direitos de voto, direitos e responsabilidades. Ele iria definir tanto as políticas como as ações futuras a serem realizadas. Ele iria produzir tanto a teoria anarquista-comunista como a prática social. Ele acredita na luta de classes e na necessidade de derrubar o governo capitalista. Ele se organiza nas comunidades e locais de trabalho. É democrático e não tem figuras de autoridade como um chefe do partido ou comitê central.

A fim de fazer um grande escala revolução, movimentos coordenados são necessários, e a sua formação, de modo algum, é contrária ao anarquismo. O que os anarquistas são contra é uma direção hierárquica com sede de poder que suprima o impulso criativo da maior parte dos envolvidos, e force uma agenda goela abaixo. Os membros de tais grupos são meros servos e adoradores da direção do partido. Mas, embora os anarquistas rejeitem este tipo de direção dominadora, eles reconhecem que algumas pessoas são mais experientes, articuladas, ou qualificadas do que outras, e que essas pessoas vão desempenhar papéis de direção. Estas pessoas não são figuras de autoridade, e podem ser removidas por decisão dos militantes. Há também uma tentativa consciente de rodiziar rotineiramente essa responsabilidade, e transmitir essas habilidades para os outros, especialmente para as mulheres e pessoas não-brancas, que normalmente não teriam a chance. As experiências dessas pessoas, que são geralmente ativistas veteranos ou melhor qualificados do que a maioria no momento, podem ajudar a formar e avançar os movimentos,e até mesmo ajudar a cristalizar o potencial de mudança revolucionária no movimento popular. O que elas não podem fazer é assumir a iniciativa do próprio movimento. Os membros desses grupos rejeitam posições hierárquicas - pessoas com mais autoridade "oficial" do que outros - e, ao contrário dos partidos M-L de vanguarda, os grupos anarquistas não se permitirão perpetuar a sua direção através de uma ditadura após a revolução.

Em vez disso, o próprio grupo catalisador será dissolvido e os seus membros, quando estiverem prontos, serão absorvidos pelo processo de tomada de decisão coletiva da nova sociedade. Portanto, esses anarquistas não são líderes, mas apenas conselheiros e organizadores de um movimento de massas.
O que não queremos nem precisamos é de um grupo de líderes autoritários da classe trabalhadora, e, em seguida, estabelecendo-se como um comando centralizado de tomada de decisões, em vez de "definhar"; os Estados marxistas-leninistas têm perpetuado as instituições autoritárias (a polícia secreta, chefes de trabalho, e o partido comunista) para manter seu poder. A aparente eficácia de tais organizações ("nós somos tão eficientes quanto os capitalistas") mascara a maneira com que os "revolucionários" se modelam pelas instituições capitalistas ficam absorvidos por valores burgueses, e completamente isolados das reais necessidades e desejos das pessoas comuns .

A relutância dos marxistas-leninistas a aceitar a mudança social revolucionária é, no entanto, acima de tudo, vista na concepção do partido de Lênin. É uma receita abertamente para tomar o poder e colocá-lo nas mãos do Partido Comunista. O partido que os leninistas criam hoje, eles acreditam, deve se tornar o (único) "Partido do Proletariado", no qual a classe pode se organizar e tomar o poder. Na prática, porém, isso significava ditadura pessoal e do partido, que se sentia com o direito e o dever de acabar com todos os outros partidos e ideologias políticas. Tanto Lênin como Stálin mataram milhões de operários e camponeses, seus adversários ideológicos de esquerda, e até mesmo membros do partido bolchevique. É por causa desta história sangrenta e traiçoeiro que existe hoje tanta rivalidade e hostilidade entre partidos marxista-leninistas e trotskista, e é por isso que os "Estados operários", seja em Cuba, China, Vietnã ou Coréia são essas burocracias opressivas sobre o seu povo. É também por isso que a maioria dos países stalinistas do Leste Europeu teve seu governo derrubado pela pequena burguesia e cidadãos comuns na década de 1980. Talvez estejamos assisntindo ao eclipse total do comunismo de Estado, uma vez que eles não têm nada de novo para dizer e nunca vão ter esses governos de volta.

Enquanto os grupos anarquistas chegam a decisões por consenso anarquista, os marxista-leninistas se organizam através do chamado centralismo democrático. O centralismo democrático se apresenta como uma forma de democracia interna do partido, mas é realmente apenas uma hierarquia, em que cada membro de um partido - e, em última análise, de uma sociedade - é subordinado a um membro "superior" até alcançar o todo-poderoso Comitê Central do Partido e seu Presidente. Este é um procedimento totalmente antidemocrático, que coloca a direção acima de qualquer crítica, mesmo que ela não esteja acima de qualquer crítica. É um método falido e corrupto de funcionamento interno de uma organização política. Você não tem voz em tal partido, e deve ter medo de dizer qualquer comentário depreciativo para ou sobre os líderes.

Em grupos anarquistas, as propostas são feitas pelos membros (nenhum dos quais tem autoridade sobre outros), as minorias dissidentes são respeitadas, e a participação de cada indivíduo é voluntária. Todo mundo tem o direito de concordar ou discordar com a política e as ações, e as idéias de todos recebem o mesmo peso e consideração. Nenhuma decisão pode ser tomada até que cada membro individual ou grupo afiliado que será afetado por essa decisão tenha tido a oportunidade de expressar sua opinião sobre o assunto. Os membros individuais e grupos afiliados devem conservar a possibilidade de recusar o apoio a atividades específicas da federação, mas não podem impedir ativamente essas atividades. De uma forma verdadeiramente democrática, as decisões para a federação como um todo devem ser feita pela maioria dos seus membros.

Na maioria dos casos, não há nenhuma necessidade real de reuniões formais para a tomada de decisões, o que é necessária é a coordenação das ações do grupo. Claro, há momentos em que uma decisão tem que ser tomada, e às vezes muito rapidamente. É raro, mas às vezes é inevitável. O consenso, nesse caso, teria de ser entre um círculo muito menor do que a maioria da militância de centenas ou milhares. Mas, normalmente, tudo que é necessário é uma troca de informações e confiança entre as partes, e uma decisão reafirmando a decisão original será alcançada, se uma decisão de emergência tiver que ser tomada. É claro que, durante a discussão, haverá um esforço para esclarecer quaisquer grandes diferenças e explorar cursos de ação alternativos. E haverá uma tentativa de chegar a um acordo mútuo de consenso entre visões conflitantes. Como sempre, se houver um impasse ou insatisfação com o consenso, a votação será tomada e com uma maioria de 2/3, a proposta seria aceita, rejeitada ou suprimida.

Isso é totalmente contrário à prática dos partidos marxistas-leninistas, onde o Comitê Central define unilateralmente a política para toda a organização, e reina a autoridade arbitrária. Os anarquistas rejeitam a centralização da autoridade e o conceito de um Comitê Central. Todos os grupos são associações livres formados fora dos comitês, e não revolucionários disciplinados pelo medo da autoridade. Quando o tamanho dos grupos de trabalho (por exemplo, sindical, finanças, antirracismo, direitos das mulheres, comida e moradia etc.) torna-se complicado, as organizações podem ser descentralizadas em duas ou mais organizações autônomas, ainda unidas em uma grande federação. Isso permite que o grupo a se expanda sem limites, mantendo sua forma anárquica de autogestão descentralizada. É parecido com a teoria científica de uma célula biológica, dividindo e se redividindo, mas em um sentido político.

No entanto, os grupos anarquistas não são necessariamente organizados frouxamente, o anarquismo é flexível e a estrutura pode ser praticamente inexistente ou muito rígida, dependendo do tipo de organização exigido pelas condições sociais enfrentadas. Por exemplo, a organização seria mais rígida durante operações militares ou repressão política intensificada.

Os anarco-comunistas rejeitam o conceito marxista-leninista de "ditadura do proletariado" e o chamado "Estado operário", em favor da comuna de massas. Ao contrário dos membros de partidos leninistas, cujas vidas diárias são geralmente semelhantes aos estilos de vida burgueses, as estruturas organizacionais e estilos de vida anarquistas, através de arranjos comunitários de vida, tribos urbanas, grupos de afinidade, squatts etc., tentam refletir a sociedade liberada do futuro. Os anarquistas construíram todos os tipos de comunas e coletivos durante a Revolução Espanhola dos anos 1930, mas foram esmagados pelos fascistas e os comunistas. Uma vez que os marxistas-leninistas não constroem estruturas cooperativas, o núcleo da nova sociedade, eles só podem ver o mundo em termos políticos burgueses. Eles querem apenas tomar o poder do Estado e instituir a sua própria ditadura sobre o povo e os trabalhadores, em vez de esmagar o poder do Estado e sibstituí-lo por uma sociedade cooperativa livre.

Claro, o partido, insistem, representa o proletariado, e não há necessidade de eles se organizarem fora do partido. No entanto, mesmo na antiga União Soviética, os membros do Partido Comunista só representavam cinco por cento da população. Isso é elitismo da pior espécie e até mesmo faz com que os partidos capitalistas pareçam democráticos, por comparação. O que o Partido Comunista tinha intenção de representar em termos de poder operário nunca foi claro, mas na verdade, no melhor estilo de "duplipensar" a la 1984, os resultados são 75 anos de repressão política e escravidão de Estado, em vez de uma era de "regime comunista glorioso" . Eles devem ser responsabilizados politicamente por esses crimes contra o povo, e a teoria política revolucionária e prática. Eles têm difamado os nomes do socialismo e do comunismo.

Nós rechaçamos a ditadura do proletariado. É opressão desenfreada, e os marxistas-leninistas e stalinistas devem ter que responder por isso. Milhões foram assassinados por Stálin em nome da luta de classes interna, e milhões mais foram assassinados na China, Polônia, Afeganistão, Camboja e outros países, por movimentos comunistas que se seguiram prescrição de Stálin sobre o terror revolucionário. Nós rejeitamos o comunismo de Estado como a pior aberração e tirania. Nós podemos fazer melhor do que isso com a comuna de massas.

A comuna anarquista de massas (às vezes também chamado de Conselho Operário, embora existam algumas diferenças) é uma federação continental ou transnacional de cooperativas econômicas e políticas e formações comunais regionais. Os anarquistas procuram criar um mundo e uma sociedade em que a tomada de decisão real envolva todos os que vivem nele - uma comuna de massas - e não poucos malucos disciplinados que puxam as cordas em uma chamada "ditadura do proletariado". Toda e qualquer ditadura é ruim, não tem aspectos sociais positivos, mas isso é o que os leninistas nos dizem que nos protegerá da contrarrevolução. Enquanto os marxistas-leninistas afirmam que esta ditadura é necessária a fim de esmagar as contrarrevoluções reacionárias de direita dirigidas pela classe burguesa, os anarquistas acham que isso é, em si, parte da escola stalinista de falsificação. Um aparelho centralizado, como um Estado, é um alvo muito mais fácil para os opositores da revolução do que uma matriz de comunas descentralizadas. E essas comunas permaneceriam armadas e preparadas para defender a revolução contra qualquer um que se movesse militarmente contra ela. A chave é mobilizar as pessoas em guardas de defesa, milícias e outras unidades de preparação militar.

Esta posição dos leninistas sobre a necessidade de uma ditadura para proteger a revolução não foi comprovada na Guerra Civil que se seguiu à Revolução Russa: na verdade, sem o apoio dos anarquistas e outras forças de esquerda, junto com o povo russo, o governo bolchevique teria sido derrotado. E, em seguida, como para qualquer ditadura, ele se virou e eliminou os movimentos anarquistas russos e ucranianos, juntamente com os seus adversários de esquerda, como os mencheviques e socialistas-revolucionários. Mesmo osoponentes ideológicos dentro do partido bolchevique foram presos e condenados à morte. Lênin e Trotsky mataram milhões de cidadãos russos logo após a Guerra Civil, quando foram consolidando o poder do Estado, que precedeu o domínio sangrento de Stalin. A lição é que não devemos ser enganados e entregar o poder popular de base para ditadores que se colocam como nossos amigos ou líderes.

Nós não precisamos das soluções marxistas-leninistas, elas são perigosas e ilusórias. Existe outro caminho mas, para grande parte da esquerda e muitas pessoas comuns, a escolha parece ser entre o "caos" anarquista ou os partidos "comunistas" maoístas, dogmáticos e ditatoriais. Isso é principalmente o resultado de mal-entendidos e propaganda. Mas o anarquismo como ideologia fornece estruturas organizacionais viáveis, bem como teoria revolucionária alternativa válida que, se utilizada, poderia ser a base para organização tão sólida como a marxista-leninista (ou até mais). Só estas organizações serão igualitárias e realmente para o benefício do povo, em vez dos líderes comunistas.

O anarquismo não se limita às idéias de um único teórico, e permite que a criatividade individual se desenvolva em grupos coletivos, em vez do dogmatismo característico dos marxistas-leninistas. Portanto, não sendo sectário, incentiva uma grande dose de inovação e experimentação, o que levou seus seguidores a responder de forma realista às condições contemporâneas. É o conceito de fazer a ideologia se adequar às exigências da vida, ao invés de tentar fazer a vida se adequar às exigências da ideologia.

Portanto,os anarquistas constroem organizações a fim de construir um novo mundo, e não para perpetuar a nossa dominação sobre as massas populares. Tentamos construir um movimento internacional organizado, coordenado e destinado a transformar o mundo em uma comuna de massas. Tal seria realmente um grande salto na evolução humana e um passo revolucionário gigantesco. Ele iria mudar o mundo como nós o conhecemos e acabar com os problemas especiais que há muito assolam a humanidade. Seria uma nova era de liberdade e realização.

VAMOS EM FRENTE, TEMOS UM MUNDO A GANHAR!

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