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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A necessidade de uma Federação Sindical Negra


A procura pelos trabalhadores negros tem sido um fator econômico central nos EUA; foram os trabalhadores negros que construíram os pilares esta nação. Começando pelo trabalho escravo nas plantagens do Sul, e depois com o trabalho agrícola após a Guerra Civil, , a migração sucessiva para o Norte e as minas e fábricas durante um período de quarenta anos (1890- 1920), e até hoje, os trabalhadores negros são importantes para o funcionamento da ordem econômica capitalista. Quase desde o começo, os trabalhadores negros organizaram os seus próprios sindicatos e associações operárias para representar os seus interesses: o National Coloured Labour Union in 1869,a Coloured Farmer's Alliance (populista) no mesmo ano, a Brotherhood of Sleeping Car Porters nos anos 1940, a League of Black Revolutionary Workers nos anos 1960s; a United Construction Workers Association e a Black and Puerto Rican Coalition of Construction Workers nos anos 1970 e até hoje, com associações como Black Workers for Justice e a Coalition for Black Trade Unionists. Algumas dessas eram sindicatos, outras eram apenas associações de trabalhadores negros nos sindicatos existentes.

Na verdade, os sindicatos nem existiriam hoje se não fosse o apoio ativo dos trabalhadores negros. O sindicalismo nasceu efetivamente como um movimento nacional durante as grandes convulsões da Guerra Civil e a luta pelo fim daescravidão e, mesmo assim, os trabalhadores negros eram rotineiramente excluídos dos sindicatos como a American Federation of Labour. Só associações classistas como os Knights, a IWW e a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), iniciada pelos anarquistas, os aceitavam como membros. Isso continuou por muitos anos, até a fundação do Congress of Industrial Organisations (CIO), que começou a sua campanha de greve, ocupações e outras ações de protesto para organizar os trabalhadores industriais não-especializados. Os trabalhadores negros foram chave nessas lutas, e mesmo assim não colheram todas as conquistas. Na verdade, os dirigentes sindicais os traíram quando a CIO foi derrotada nos anos 1950.

Você pode pensar que o movimento sindical americano acharia criminoso ou racista ignorar esses trabalhadores hoje da mesma forma. Mas ainda hoje não existe nenhuma organização sindical nos EUA que dê total representação e e tratamento igual aos trabalhadores negros. O fato é que, mesmo com alguns dirigentes negros, os trabalhadores negros recebem bem menos benefícios trabalhistas que os brancos, e estão presos nos trabalhos pior pagos, mais entendiantes e perigosos, mesmo que tenham tido conquistas econômicas substanciais nos anos 1960.

A maioria das massas negras é da classe trabalhadora. Por causa do seu papel na produção, os trabalhadores industriais e administrativos negros são potencialmente o setor mais poderoso da comunidade negra na luta pela libertação negra. Como vítimas da desigualdade da economia, os trabalhadores negros já começaram a se organizar pelos seus interesses e para proteger os seus direitos trabalhistas, mesmo quando os sindicatos são pelegos e não lutam contra o patrão. Eles formaram chapas, e até mesmo sindicatos independentes, quando necessário. É claro que a unidade entre os trabalhadores negros e brancos é indispensáveis para o combate e a derrubada do capitalismo. Mas onde os trabalhadores brancos têm privilégios e os negros são penalizados, a unidade e a luta negras devem preceder e preparar o terreno para qualquer unidade negra e branca em grande escala. Os coletivos de negros nos sindicatos podem lutar contra a discriminação na contratação, demissão e ascensão profissional, e por igualdade de tratamento nos sindicatos, agora, enquanto os trabalhadores brancos ainda não apoiam os direitos democráticos dos negros e de outras nacionalidades oprimidas. Os coletivos de negros são importantes. Onde eles participam do movimento sindical, eles devem lutar para democratizar os sindicatos, regenerar o seu espírito de luta e eliminar práticas que favorecm os brancos. Esses coletivos de negros nos sindicatos devem exigir:



§ Controle democrático do sindicato pela base.
§ Direitos e tratamento iguais para todos os sindicatos; eliminação de todas as práticas racistasno movimento operário.
§ Programas de ação afirmativa para retificar antigas práticas racistas de contratação, acabar com a discriminação racial baseada na aposentadoria e outros motivos.
§ Pleno emprego para todos os negros, mulheres e outros trabalhadores não-brancos.
§ Jornada de 20-30 horas por semana sem redução de salários.
§ Direito à greve, incluindo greves selvagens sem autorização do sindicato.
§ Processos judiciais mais rápidos e justos .
§ Escala móvel em todos os acordos coletivos, para assegurar o reajuste de salário de acordo com a inflação.
§ Desconto para a previdência somente para os empregadores e o governo. Licença-saúde e seguro-desemprego de 100% do valor do salário.
§ Salários mínimos por categoria.
§ Impedir o fechamento de setores, falência fraudulenta ou “reestruturação produtiva” sem aviso aos sindicatos ou para levar vantagem nas negociações coletivas.
§ Um programa de obras públicas para reconstruir as comunidades negras e periféricas e dar trabalho para os negros.
§ Autogestão operária na indústria através de comitês de fábrica e conselhos operários eleitos pelos próprios trabalhadores.

Junto com os coletivos sindicais, os trabalhadores negros precisam de uma associação nacional de trabalhadores negros, que seria, ao mesmo tempo, um movimento sindical revolucionário para criar organização por local de trabalho, e um movimento social de massas para criar organização comunitária. Um movimento assim combinaria as táticas tanto do movimento sindical quanto do movimento de libertação negra. Ele não é para tirar os negros dos sindicatos em que eles já estão organizados, e sim, em vez disso, servir como ferramenta para multiplicar o seu número e sua força, e transformar os seus sindicatos em instrumentos classistas.

A League of Revolutionary Black Workers (Liga dos Trabalhadores Negros Revolucionários), que organizou os trabalhadores negros da indústria automobilística nos anos 1960, é um exemplo do tipo de organização necessária. A Liga, que cresceu a partir do seu componente principal , o Dodge Revolutionary Movement (DRUM), foi, sem dúvida, a movimento sindical negro mais combativo da história. Era uma federação sindical negra que existia como alternativa ao sindicato, o United Auto Workers, e era o passo inevitável de levar a luta pela libertação negra para o chão de fábrica, o local de trabalho, a área mais vulnerável do capitalismo.

A Liga sabiamente decidiu se organizar na indústria automobilística de Detroit. Era uma indústria em que os trabalhadores eram parte importante da força de trabalho e também da comunidade negra de Detroit, onde a Liga uniu a luta nas fábricas com a luta negra como um todo. Ela logo se tornou uma das forças principais no local de trabalho e nas ruas, já que muitos dos seus quadros se organizavam nas universidades e nas periferias negras. Ela tinha potencial para virar um movimento operário negro nacional, mas esse potencial foi desperdiçado em lutas fracionais na direção, falta de uma base organizada sólida nas fábricas, repressão das empresas, do UAW e do Estado, racismo organizado e falta de cooperaçaõ dos trabalhadores brancos, entre outros fatores. No final, a Liga rachou em frações hostis umas às outras, e morreu após menos de cinco anos de existência.

Mesmo que a Liga tenha sido, no máximo, uma organização sindicalista revolucionária, e depois uma rígida organização marxista-leninista (e a sua adoção dessa ideologia autoritária, com as suas ideias de expurgos e de direção inquestionável, levou diretamente ao seu fim), existe muita coisa que os anarquistas e sindicalistas radicais negros podem aprender com a Liga. A principal é que os trabalhadores negros podem e devem se organizar em algum tipo de associação operária independente, além ou até em vez de participarem dos sindicatos, especialmente onde os sindicatos são pelegos e discriminam os negros. Também é muito mais fácil para os trabalhadores negrosoganizarem os trabalhadores negros e as suas comunidades para apoiarem greves e organização por local de trabalho. É justamente por isso que precisamos criar um grupo como a Liga hoje em dia, mas como uma organização anarcossindicalista, para evitar os erros e problemas ideológicos do marxismo-leninismo. Falando simplesmente, qual deveria ser o programa de uma Federação Nacional de Trabalhadores Negros?

§ Luta de classes contra os patrões.
§ Organizar os trabalhadores negros desorganizados ignorados pelos sindicatos.
§ Solidariedade operária entre todas as nacionalidades de trabalhadores.
§ Por uma Federação Sindical Negra!

De Detroit, Michigan a Durban, África do Sul, do Caribe à Austrália, do Brasil à Inglaterra, os trabalhadores negros são universalmente oprimidos e explorados. A classe operária negra precisa da sua própria organização sindical. No existe grupo racial mais prejudicado pelas restrições sociais do que os trabalhadores negros, eles são oprimidos como trabalhadores e como povo. Por causa dessa opressão dual, e do fato de que a maioria dos sindicatos excluem ou não lutam pelos trabalhadores negros, devemos nos organizar pelos nossos próprios direitos e nossa libertação. Mesmo que em muitos países africanos existam federações sindicais “negras”, elas são reformistas ou controladas pelos governos. Existe uma grande classe operária em muitos desses países, mas eles não têm organizações sindicais combativas para dirigir a luta. A construção de um movimento operário negro pela sabotagem industrial revolucionária e pela greve geral, ou para organizar pela autogestão operária, e assim para inviabilizar e derrubar o governo, é a prioridade número um.

O que uma federação sindical internacional negra defenderia? Primeiro, já que muitos trabalhadores e camponeses negros são estão organizados na maioria dos países, tal organização seria o grande sindicato de trabalhadores negros, representando cada categoria ou profissão possível. Essa organização também significa a unidade internacional dos trabalhadores negros e, então, em segundo lugar, ela significa coordenar internacionalmente as revoltas operárias. O capital e o trabalho não têm nada em comum.

A verdadeira força dos trabalhadores contra o capital e os países imperialistas é a guerra econômica. Uma greve geral revolucionária com boicote das multinacionais e seus bens pelos trabalhadores negros do mundo é a forma de feri-los. Por exemplo, se quisermos que os EUA e o Reino Unido interrompam o apoio financeiro e militar à África do Sul, temos que usar o peso e o poder dos trabalhadores negros desses países para fazer greves, sabotagens, boicotes e outras formas de luta econômica e política contra esses países e as multinacionais envolvidas. Seria um poder com que eles teriam que lidar. Por exemplo, ações coordenadas por sindicatos e grupos políticos de lá já causam grandes mudanças políticas, e uma greve geral total provavelmente levaria a África do Sul racista ao colapso total do Estado, especialmente se essasgreves forem apoiadas pelos trabalhadores negros da América do Norte.

Além de pedir que os trabalhadores negros formem a sua própria federação sindical internacional e organizem comitês de base dentro dos sindicatos existentes, para pressioná-los a fazer luta de classes, também convidamos os trabalhadores negros a entrarem em organizações anarcossindicalistas como a IWW e a Associação Internacional dos Trabalhadores. Mas, é claro, a ideia não é tirar os trabalhadores negros dos sindicatos onde eles já estão ativos, e sim servir como ferramenta para multiplicar o seu número e força nesses sindicatos, e torná-los mais combativos.

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