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terça-feira, 25 de agosto de 2015

Estratégia e tática revolucionárias


Se formos construir um novo movimento revolucionário de protesto negro, temos que nos perguntar como podemos atacar o sistema capitalista, e como o atacamos no passado, quando dirigimos movimentos sociais contra alguns aspectos da nossa opressão. Boicotes, manifestações de massa, greves de aluguel, piquetes, greves trabalhistas, ocupações e outros protestos foram usados pelo movimento negro em diferentes momentos da sua história, junto com autodefesa armada e revolução aberta. Para resumir, o que temos que fazer é levar a nossa luta a um nível novo e mais elevador: precisamos pegar essas táticas verdadeiras e comprovadas (que foram usadas primordialmente em nível local, até agora), e utilizá-las em nível nacional, e então complementá-las com táticas que ainda não foram testadas, para fazer um ataque estratégico às maiores corporações capitalistas e ao aparato governamental.

Vamos discutir algumas delas:

Um Boicote de Impostos pelos Negros

O povo negro deve se recusar a pagar qualquer imposto ao governo racista, incluindo o Imposto de Renda, IPTU e impostos sobre vendas, enquanto estiver sendo submetido a exploração e brutalidade. Os ricos e suas corporações praticamente não pagam impostos. Sãos os pobres e trabalhadores que carregam o fardo da taxação. E, ainda assim, não recebem nada em troca. Ainda existem altos níveis de desemprego na comunidade negra, os benefícios e seguro-desemprego são escassos, as escolas estão dilapidadas, as moradias públicas são uma vergonha, enquanto os alugueis pagos por imóveis com proprietários ausentes são exorbitantes - todas essas condições, e outras mais, supostamente seriam corrigidas pelos impostos sobre renda, bens e serviços do governo. Errado! Eles vão para o Pentágono, contratos bélicos, e consultores gananciosos que , como se fossem urubus, caçam negócios com o governo.

O movimento de libertação negra deve criar um movimento de massas de boicote dos impostos, como um meio de protesto, e também como método para criar um fundo para financiar projetos e organizações comunitários negros. Por que nós deveríamos apoiar voluntariamente a nossa própria escravidão? Um boicote de impostos pelos negros é apenas mais um método de luta que o movimento negro deveria examinar e adotar, que é semelhante à resistência aos impostos de guerra, do movimento pacifista. Os negros deveriam ser isentos de todos os impostos sobre propriedade pessoal, renda, ações e títulos (os últimos seriam um novo tipo de seguro de desenvolvimento comunitário). Que os ricos paguem!

Uma greve nacional de alugueis e ocupações urbanas

Junto com o boicote de impostos, deveria haver a recusa a pagar alugueis de moradias dilapidadas. Estes boicotes tem sido usados com grande sucesso para lutar contra o aumento dos alugueis pelos senhorios. Em uma ocasião, eles foram tão efetivos no Harlem (NY), que causaram a criação de uma legislação de controle de alugueis, impedindo despejos, aumentos injustificados e exigindo aumentos razoáveis dos proprietários e imobiliárias. Um movimento de massas poderia levar a greve de alugueis a áreas como o Sudeste e o Sudoeste, onde os pobres estão sendo massacrados pelos senhorios gananciosos, mas ainda não estão familiarizados com essas táticas. Leis injustas aprovadas, chamadas de leis de Senhorios-Inquilinos (em que o único "direito" que os inquilinos têm é de pagar o aluguel ou serem despejados) deveriam também ser liberalizadas ou abolidas completamente. Essas leis só ajudam os donos dos cortiços a continuarem seus negócios, explorando os pobres e trabalhadores. Elas causam despejos em massas que, por sua vez, deixam as pessoas sem-teto. Precisamos lutar para reduzir os alugueis, impedir os despejos em massa, e garantir moradia para os pobres e sem-teto em lugares decentes e pagáveis.

Além da recusa a pagar pelos donos dos cortiços, bancos e imobiliárias, deveria haver uma campanha de ocupações urbanas, para simplesmente ocupar as moradias, e colocar os moradores no controle democrático delas como um coletivo. Então, esse dinheiro, que iria para os alugueis, poderia ser usado para reparar os imóveis. Os sem-teto e pobres precisam de casas a preços razoáveis, e os que precisam urgentemente de moradia deveriam simplesmente tomar qualquer moradia abandonada de um senhorio ausente ou mesmo de um projeto de moradia abandonada. As ocupações são uma tática especialmente boa nesse tempos de falta de moradia e incêndios ilegais feitos pelos proprietários. Temos que botar eles pra fora e simplesmente ocupar! É claro que provavelmente temos que lutar contra os policiais e proprietários que vão tentar usar táticas agressivas, mas nós também podemos fazer isso! Podemos conquistar vitórias significativas se organizarmos uma série nacional de greves de aluguel, e construirmos um movimento independente de inquilinos que vai autogerir todas as moradias, não em nome do governo (com o seu enganoso "plano Kemp"), mas em nome deles mesmos!

Boicote das empresas americanas

É um fato comprovado que uma das armas mais fortes do movimento de direitos civis foi o boicote dos consumidores negros dos vendedores e serviços públicos de uma comunidade. Os comerciantes e outros negociantes, é claro, são os "cidadãos de destaque" de qualquer comunidade, a classe dominante local e os que mandam no governo. Nos anos 1960, quando os negros se recusaram a negociar com comerciantes que praticassem a discriminação racial, a sua perda de renda os levou a fazer concessões, e intermediar a luta, até mesmo afastando os policiais e a Klan. O que é verdade em nível local, certamente é verdade em nível nacional. As grandes corporações e famílias da elite controlam o país; o governo é apenas uma ferramenta. Os negros gastam mais de 350 bilhões de dólares por ano nessa economia capitalista como consumidores, e se poderia facilmente começar uma guerra econômica contra essa estrutura corporativa com um boicote bem planejado para ganhar concessões políticas. Por exemplo, uma corporação como a General Motors é muito dependente dos consumidores negros, o que significa que é muito vulnerável a um boicote, se ele for amplamente organizado e apoiado. Se os negros se recusarem a comprar carros da GM, isso traria perdas significativas para a corporação, centenas de milhões de dólares. Uma coisa assim poderia até derrubar a companhia. E, mesmo assim, a ala revolucionária do movimento negro ainda não usa os boicotes, chamando-os de "reformistas" e ultrapassados.

Mas, longe de serem uma tática ultrapassada que temos que abandonar, os boicotes se tornaram ainda mais efetivos nos últimos anos. Em 1988, o movimento negro e progressista dos EUA criou outra tática, boicotando a indústria do turismo de cidades e estados inteiros que praticavam a discriminação. Isso refletia, por um lado, como várias cidades mudaram das indústrias a todo vapor nos anos 1960, para o turismo como sua principal fonte de renda e, por outro lado, um reconhecimento por parte do movimento de que a guerra econômica era uma arma potente contra governos discriminatórios.O boicote negro de 1990-1993 contra a indústria turística de Miami e o boicote atual dos gays contra o estado do Colorado (que começou em 1992) foram, ambos, bem-sucedidos e trouxeram atenção mundial para os problemas das suas comunidades. Na verdade, os boicotes se expandiram para cobrir tudo, desde as uvas da Califórnia, cerveja (Coors), uma marca de jeans, os produtos fabricados na África do Sul, uma indústria de carne e várias outras coisas. Os boicotes são mais populares hoje do que em qualquer outra época.

O Dr. Martin Luther King, Jr. reconhecia o potencial revolucionário de um boicote negro nacional das grandes corporações americanas. É por isso que ele criou a "Operação Cesta de Pão", um pouco antes e ser assassinado. Essa organização com sede em Chicago tinha como objetivo ser a receptora dos fundos que as empresas fossem forçadas a pagar, que seriam usados num projeto nacional de desenvolvimento para as comunidades pobres negras. Embora ele tenha sido assassinado antes disso acontecer, temos que continuar o seu trabalho. Por todo o país, escritórios de boicote negro devem ser abertos! Temos que transformar isso num movimento de massas, envolvendo todos os setores do nosso povo. Temos que nos manifestar, fazer piquetes e ocupações nas reuniões e escritórios das corporações-alvo em todo o país.Temos que ir até a porta da casa deles e parar com o saque que eles fazem na comunidade negra

Uma greve geral negra

Por causa do seu papel na produção, os trabalhadores negros são potencialmente o setor mais poderoso da comunidade negra na luta pela liberdade. A grande maioria da comunidade negra são trabalhadores. Tirando o número desproporcional de desempregados, cerca de 11 milhões de homens e mulheres negros são, hoje, parte da força de trabalho americana. Cerca de 5 a 6 milhões deles estão nas indústrias de base, como metalúrgicas, pequeno comércio, produção e processamento de alimentos, carnes, automobilística, ferrovias, serviços médicos e comunicações. Os negros são de 1/3 à metade dos trabalhadores das indústrias de base, e 1/3 dos trabalhadores especializados. Portanto, o trabalho negro é muito importante para a economia capitalista.

Por causa dessa vulnerabilidade às ações trabalhistas dos trabalhadores negros, que estão entre os mais militantes, eles podem ter um papel de liderança numa campanha de protesto contra o racismo e a opressão de classe. Se eles se organizarem corretamente, serão a vanguarda classista do nosso movimento, já que estão no ponto de produção. Os trabalhadores negros também podem dirigir uma greve geral nacional nos seus locais de trabalho como protesto contra a discriminação racial no trabalho e na moradia, os números excepcionalmente altos de desemprego dos negros, e pelas reivindicações gerais do movimento negro. Essa greve geral é uma greve socialista, não somente uma greve por maiores salários e condições de trabalho; ela é política revolucionária por outros meios. Essa greve geral também pode tomar a forma de sabotagem industrial, ocupações de fábrica, operações-tartaruga, greves selvagens e outras paradas de trabalho, como protesto para conseguir concessões em nível local e nacional, e reestruturar os locais de trabalho para conquistar a jornada de 4 horas para os trabalhadores americanos. A greve deveria envolver não só os trabalhadores nos seus empregos, mas também a comunidade negra e grupos progressistas que apoiem nos piquetes, panfletagens e publicações de apoio à greve, manifestações nas sedes das empresas e locais e trabalho, assim como outras atividades.

É necessária uma organização séria na comunidade e nos locais de trabalho para fazer uma greve geral em todo o país.Os trabalhadores negros precisam organizar comitês de greve geral nos locais de trabalho, e comitês de apoio à greve negra para fazer o trabalho de apoio dentro da própria comunidade negra. Porque tal greve seria especialmente dura e violenta, os trabalhadores negros devem organizar comitês de defesa operária para defender os demitidos ou perseguidos por causa do seu trabalho sindical. Esse comitê de defesa divulgaria a situação dos trabalhadores perseguidos e buscaria apoio dos outros trabalhadores e da comunidade. Ele também estabeleceria um fundo de greve e defesa e uma cooperativa de alimentação para apoiar financeira e materialmente os trabalhadores perseguidos e suas famílias durante a greve.

Mesmo que certamente deva existir uma tentativa de envolver os trabalhadores brancos que quiserem cooperar, a greve deve ser dirigida pelos negros, porque somente os trabalhadores negros podem efetivamente levantar as questões que mais os afetam. Os trabalhadores brancos têm que apoiar os direitos democráticos dos trabalhadores negros e e de outras nacionalidades oprimidas, em vez de só as campanhas pelos "direitos dos brancos" sobre as assim chamadas "questões econômicas comuns", dirigidas pela esquerda norteamericana. Junto com indivíduos ou tendências sindicais norteamericanos, os próprios sindicatos locais devem ser recrutados porque, mesmo não sendo a força a liderar essa luta, a sua ajuda pode ser indispensável numa campanha específica. É necessária uma grane organização para fazê-los romper com a sua natureza racista e conservadora. Então, embora precisemos e queiramos o apoio dos trabalhadores de outras nacionalidades e gêneros, é ridículo e condescendente simplesmente dizer para os trabalhadores negros se sentarem e esperarem até que uma "vanguarda dos trabalhadores brancos" decida que quer lutar.

Temos que educar os nossos irmãos trabalhadores sobre essas questões e sobre por que eles devem combater a supremacia branca ao nosso lado, mas não vamos confiar a nossa luta a mais ninguém! TEMOS QUE ORGANIZAR A GREVE GERAL PELA LIBERDADE NEGRA!