capa

capa

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Qual forma terá esse movimento?


Se existe uma coisa que foi aprendida pelos organizadores anarquistas na década de 1960, é que não se organiza um movimento de massas ou revolução social apenas criando uma organização central, como um partido de vanguarda ou central sindical. Mesmo acreditando em organizações revolucionárias, os anarquistas as consideram um meio para um fim, e não um fim em si mesmo. Em outras palavras, os grupos anarquistas não são formados com o objetivo de serem organizações permanentes para tomar o poder depois da luta revolucionária,e sim grupos para catalizar as lutas revolucionárias, e tentar levar as rebeliões populares, como a revolta de 1992 em Los Angeles, a um nível superior de resistência.

Duas características de um novo movimento de massas devem ser a intenção de criar instituições de poder dual para enfrentar o Estado, junto com a capacidade de criar um movimento autonomista de base que possa tirar partido de uma situação prerrevolucionária para ir até o final.

Poder dual significa organizar coletivos e comunas, nas cidades e no campo, através de todos os EUA, que sejam, na prática, zonas liberadas, fora do controle do governo. Autonomia significa que o movimento deve ser verdadeiramente independente, uma associação livre de todos os que se unirem por objetivos comuns, em vez de filiação resultante de juramento ou outro tipo de pressão.

Então, como os anarquistas devem intervir no processo revolucionário dos bairros negros? Bem, obviamente os anarquistas norteamericanos ou “brancos” não podem simplesmente ir para as comunidades negras e fazer proselitismo, mas certamente podem trabalhar com anarquistas não-brancos e ajudá-los no trabalho com suas comunidades (eu acho que o exemplo da Federação Anarquista de Nova Jersey e a sua aliança frouxa com os Panteras Negras naquele Estado é um exemplo de como devemos começar). E, com certeza, não estamos falando de uma situação em que os organizadores negros vão para a comunidade e ganham pessoas para o anarquismo, para que depois elas sejam controladas pelos brancos de algum partido. É assim que o Partido Comunista e outros grupos marxistas operam, mas os anarquistas não podem fazer assim. Nós difundimos as crenças anarquistas não para “controlar” as pessoas, e sim para deixá-las saberem como podem melhor se organizar para combater a tirania e obter a liberdade. Queremos trabalhar com elas como semelhantes, aliados que têm as suas próprias experiências, agendas e necessidades. A ideia é conseguir que o máximo de movimentos possíveis lutem contra o Estado, já que é isso que fará o dia da liberdade para todos nós se aproximar um pouco mais.

É necessário haver algum tipo de organização revolucionária para os anarquistas trabalharem em nível local, então vamos chamar esses grupos locais de Comitês de Resistência Negra. Cada um desses comitês será um coletivo social revolucionário negro da classe trabalhadora na comunidade, para lutar por direitos e liberdade para os negros como parte da revolução social. Os comitês não devem ter dirigente ou líder partidário, nem nenhum tipo de estrutura hierárquica, ou seja, devem ser antiautoritários. Existem para fazer trabalho revolucionário e, assim, não são grupos de debates ou um clube para eleger políticos negros. São formações políticas revolucionárias, ligadas a grupos semelhantes por toda a América do Norte e outras partes do mundo, num grande movimento chamado federação. Uma federação é necessária para coordenar as ações desses grupos, para que eles saibam do que está acontecendo em cada região, e para estabelecer estratégias e táticas amplas (vamos chamá-la, por falta de melhor nome, de Federação Revolucionária Africana, ou ela pode ser parte de uma federação multicultural). Uma federação do tipo de que eu estou falando é uma organização de massas, democrática e formada por todo tipo grupos menores e indivíduos. Mas isso não é de um governo ou sistema representativo que eu estou falando: não haveriam posições de poder permanentes, e até os facilitadores dos programas internos seriam sujeitos a revogação imediata ou teriam uma rotação regular de funções. Quando a federação não foir mais necessária, ela pode ser dissolvida. Tente fazer isso com o Partido Comunista ou um dos grandes partidos capitalistas dos EUA!

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Um chamado a um novo movimento de protesto negro



Os anarquistas negros, como eu, reconhecem que é preciso todo um novo movimento social, democrático, de base e autoorganizado. Será um movimento independente dos maiores partidos, do Estado e do governo. Deve ser um movimento que, embora busque expropriar o dinheiro do governo para projetos que beneficiem o povo, não reconheça qualquer papel progressivo do governo na vida do povo. O governo não vai nos libertar, ele é parte do problema, e não parte da solução. Na verdade, só as próprias massas negras podem lutar pela liberdade negra, e não uma burocracia governamental (como o Departamento de Justiça dos EUA), líderes de direitos civis reformistas,como Jesse Jackson, ou um partido revolucionário de vanguarda, em nome delas.
É claro que, em certos momentos históricos, um líder de protestos pode desempenhar um tremendo papel revolucionário como porta-voz dos sentimentos populares,ou até produzir estratégia e teoria corretas para um certo período (Malcolm X, Marcus Garvey e Martin Luther King, Jr. vêm à mente) e um “partido de vanguarda” pode conquistar influência de massas e aceitação popular por um tempo (ex. os Panteras Negras nos anos 1960), mas são as próprias massas negras que vão fazer a revolução e, uma vez postas espontaneamente em ação, vão saber exatamente o que querem.

Embora os líderes possam ser motivados por boas ou más intenções, mesmo eles vão servir como freio para as lutas, especialmente se perderem o contato com as aspirações das massas negras pela liberdade. Os líderes só podem servir a um propósito legítimo como conselheiros ou catalizadores do movimento, e deveriam estar sujeitos à sua revogação imediata se agissem contrários aos desejos do povo. Nesse papel de tipo limitado, eles não seriam líderes – e sim organizadores comunitários.

A dependência do movimento negro em relação aos líderes e à liderança (especialmente a burguesia negra) nos levou a um beco sem saída político. Esperam que aguardemos quietos até que o próximo líder messiânico se revele, como se ele ou ela fosse “escolhido por Deus” (como alguns falaram que eram). O que é ainda mais prejudicial é que muitos negros adotaram uma psicologia servil de “obedecer e servir aos nossos líderes”, sem pensar no que eles mesmos são capazes de fazer. Assim, em vez de tentar analisar a situação atual e continuar a obra do irmão Malcolm X na comunidade, eles preferem lamentar os fatos brutais, ano após ano, de como ele nos foi tirado. Alguns, equivocadamente, se referem a isso como “vácuo de liderança”. O fato é quenão houve muito movimento no movimento revolucionário negro desde o seu assassinato e a virtual destruição de grupos como os Panteras Negras. Nos estagnamos no reformismo de classe média e na incompreensão.

Precisamos de novas ideias e formações revolucionárias para combater nossos inimigos. Precisamos de um novo movimento de protesto de massas. Cabe às massas negras construí-lo, e não aos líderes e partidos. Eles não podem nos salvar. Só nós podemos nos salvar.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Onde está a luta negra e para onde deveria estar indo?


Alguns – geralmente profissionais liberais, políticos ou empresários que usaram o movimentos pelos direitos civis da década de 1960 para conquistar poder ou destaque – dirão que não existe mais necessidade de lutas nas ruas pela liberdade nos anos 1990. Eles dizem que “chegamos lá” e agora somos “quase livres”. Eles dizem que a nossa única luta agora é para “integrar o dinheiro”, ou seja, ganhar dinheiro para eles e os membros da sua classe, mesmo quando falam, da boca pra fora, em “empoderar os pobres”. Eles dizem, Olhe, nós podemos votar, os nossos rostos negros estão em todos os comerciais de TV e séries de comédia, existem centenas de milionários negros, e temos representantes no Congresso e nas Câmaras estaduais em todo o país. Na verdade, eles dizem, existem mais de 7000 eleitos negros, muitos deles presidindo as maiores cidades do país, e até mesmo um governador em um Estado do Sul. É isso o que eles dizem. Mas isso é a história toda?

O fato é que estamos tão mal quanto ou até pior, economicamente e politicamente, que na época em que o movimento pelos direitos civis começou na década de 1950. Um em cada quatro negrosestá preso ou em condicional, um terço ou mais das famílias negras agora têm somente um responsável e vivem na pobreza, o desemprego chega a 18 a 25% das comunidades negras, o tráfico de drogas é o principal emprego dos jovens negros, a maioria das casasem piores condições ainda estão concentradas nos bairros negros, os negros e outros não-brancos sofrem com o pior sistema de saúde, e as comunidades negras ainda são subdesenvolvidas, por causa da discriminação racial das prefeituras, fundos de pensão e bancos, que impedem que as comunidades negras recebam empréstimos para desenvolvimento comunitário, habitação e pequenas empresas, e mantém as nossas comunidades pobres. Também sofremos de atos assassinos de brutalidade policial, cometidos por policiais racistas, que resultaram em milhares de mortos e feridos, e guerra fratricida de gangues que causa numerosos homicídios de jovens (e muito ódio). Mas o que mais sofremos, e que engloba todos esses males, é o fato de que somos um povo oprimido – na verdade, um povo colonizado sujeito ao domínio de um governo opressor. Nós realmente não temos direitos nesse sistema, a não ser quando lutamos e, mesmo assim, eles correm perigo. Claramente precisamos de um novo movimento de protesto negro para desafiar o governo e as corporações, e expropriar os fundos necessários à sobrevivência das nossas comunidades.

Mesmo assim, nos últimos 25 anos, o movimento revolucionário negro esteve na defensiva. Devido à cooptação, repressão e traições do movimento de libertação negra dos anos 1960, o movimento de hoje sofreu uma série de derrotas e, em comparação, se tornou estático. Pode ser que seja porque só agora ele está retomando a sua influência, depois de ser arrasado pelas agências de polícia do Estado, e também por causa das contradições políticas internas que surgiram nos maiores grupos negros revolucionários, como o Partidos dos Panteras Negras, o Comitê Coordenador Estudantil Não-Violento (SNCC ou “snick”, como era chamado na época) e a Liga dos Trabalhadores Negros Revolucionários. Acredito que todos esses fatores levaram à destruição da esquerda negra dos anos 1960 no país. É claro, muitos colocam a culpa desse período de relativa inatividade na falta de líderes com autoridade, como Malcolm X, Martin Luther King, Marcus Garvey, etc., enquanto outros culpam o “fato” nas massas negras que, alega-se, se tornaram “corruptas e apáticas”, ou apenas precisam da “linha revolucionária correta”.

Independente dos fatos relativos ao assunto, é claramente visível que o governo, as corporações capitalistas ea classe dominante racista estão explorando a fraqueza e a confusão atuais do movimento negro para atacar a classe operária negra, e tentar destruir as conquistas da era dos direitos civis. Além disso, existe um ressurgimento do racismo e do conservadorismo em amplos setores da população branca, que é um resultado direto dessa campanha da direita. Claramente, vivemos num tempo em que precisamos buscar novas ideias e novas táticas na luta pela liberdade.

Os ideais do anarquismo são novos para o movimento negro, e nunca foram verdadeiramente examinados pelos ativistas negros e outros não-brancos. Dito simplesmente, anarquismo significa que o próprio povo deve governar, e não os governos, partidos ou líderes autodeclarados. O anarquismo também defende a autodeterminação de todos os povos oprimidos, e o seu direito de lutar pela liberdade por todos os meios necessários.

Então, qual é o caminho para o movimento negro? Continuar a depender dos politiqueiros oportunistas Democratas, como Bill Clinton ou Ted Kennedy; do mesmo velho grupo de “líderes” vendidos de classe média do lobby pelos direitos civis, de uma ou outra das seitas leninistas autoritárias, que insistem que só elas são o caminho correto para a “verdade revolucionária” ou, finalmente, de construir um movimento de protesto revolucionário e de base para lutar contra o governo racista?

Só as massas negras podem, finalmente, decidir a questão, se elas vão aceitar alegremente carregar o fardo da depressão econômica atual e a escalada da brutalidade racista, ou se serão levadas a revidar. Os anarquistas confiam nos melhores instintos do povo, e a natureza humana diz que, onde há repressão, há resistência; onde há escravidão, há luta contra ela. As massas negras mostraram que vão lutar e, quando elas se organizarem, vão vencer!

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Derrotar a supremacia branca!


O próprio meio de controle social usado pelos ricos é o menos entendido. A supremacia branca é mais do que somente um conjunto de ideias e preconceitos. É opressão nacional. Ainda assim, para a maioria dos brancos, o termo conjura imagens dos nazistas ou da Ku Klux Klan, e não do sistema de privilégios brancos que subjaz ao sistema capitalista nos EUA. A maioria dos brancos, inclusive os anarquistas, acreditam essencialmente que os negros são “iguais” aos brancos, e que devemos lutar apenas por questões “comuns”, em vez de lidar com questões “raciais”, se é que veem alguma necessidade de lidar com elas. Alguns não vai dizer isso de forma tão crua, eles vão dizer que ”as questões de classe precedem”, mas isso quer dizer a mesma coisa. Eles acreditam que é possível esperar para lutar contra a supremacia branca depois da revolução quando, na verdade, não vai haver revolução se a supremacia branca não for atacada e derrotada antes.

Não haverá revolução nos EUA enquanto não houver luta para melhorar a situação dos negros e povos oprimidos questão sendo privados dos seus direitos democráticos, e sendo superexplorados como trabalhadores.

Desde quase o começo do movimento socialista norteamericano, a posição economicista simplória de que tudo o que os trabalhadores negros e brancos têm que fazer para chegar à revolução é a “luta (econômica) conjunta” tem sido usada para evitar a luta contra a supremacia branca. Na verdade, a esquerda branca sempre tomou a posição chauvinista de que, já que a classe operária branca é a vanguarda de qualquer maneira, por que se preocupar com um assunto que vai “dividir a classe”? Historicamente, os anarquistas nem mesmo compraram o discurso da “política racial”, como um anarquista se referiu, na primeira vez que esse livreto foi publicado. É uma evasão total da questão.

Mesmo assim, é a classe dos capitalistas que cria a desigualdade como uma forma de dividir para dominar toda a classe trabalhadora. O privilégio branco é uma forma de dominação do capital sobre os trabalhadores brancos, assim como sobre os das nacionalidades oprimidas, não apenas dando incentivos materiais para “comprar” os trabalhadores brancos e usá-los contra os negros e oprimidos. Isso explica a obediência dos trabalhadores brancos ao capitalismo e ao Estado. A classe trabalhadora branca não vê a sua melhor condição de vida como parte do sistema de exploração. Depois de séculos de doutrinação política e social, ela sente a sua posição privilegiada como justa e correta e, pior ainda, “conquistada”. Ela se sente ameaçada pelos ganhos sociais dos trabalhadores não-brancos, que é o motivo dela ser tão veementemente contra os planos de ações afirmativas para beneficiar as minorias no trabalho, e para corrigir anos de discriminação contra eles. Também é por isso que os trabalhadores brancos foram contra a maior parte da legislação de direitos civis.

Assim, são as manifestações cotidianas da supremacia branca que temos que combater com mais vigor. Não podemos ignorar ou ficar indiferentes às manifestações de raça e classe neste sistema, de forma que os trabalhadores oprimidos continuem vitimizados. Por anos, os negros foram os últimos a serem contratados e primeiros a serem demitidos pela indústria capitalista. Além disso, os sistemas de aposentadoria ativamente discriminaram por raça, e são pouco mais que planos de previdência brancos. Os negros foram até mesmo expulsos de indústrias inteiras, como a carvoeira. Mesmo assim, os dirigentes sindicais brancos nunca foram contra ou interviram a favor dos seus irmãos de classe, nem vão fazê-lo se não forem colocados contra o muro pelos trabalhadores brancos.

Como já foi apontado, existem incentivos materiais para este oportunismo do trabalhador branco: melhores empregos, melhor salário, melhores condições de vida em comunidades brancas etc, em suma, o que se tornou conhecido como “estilo de vida de classe média”. Isso é o que o movimento operário e a esquerda sempre lutaram para manter, e não a solidariedade de classe, que precisaria da luta contra a supremacia branca. Esse estilo de vida é baseado na superexploração do setor não-branco da classe trabalhadora doméstica, assim como dos países explorados pelo imperialismo no mundo todo.

Nos EUA, o antagonismo de classe sempre incluiu o ódio racial como um componente essencial, mas isso é estrutural, e não apenas ideológico. Já que todas as instituições,a cultura, e o sistema socioeconômico do capitalismo americano são baseados na supremacia branca, como então seria possível lutar realmente contra o poder do capital sem ser forçado a derrotar a supremacia branca? A economia dual, com os brancos no topo e os negros na base (mesmo com todas as diferenças de classe entre os brancos) resistiu com sucesso a todas as tentativas dos movimentos sociais radicais. Esses reformistas relutantes falaram de tudo, menos desse assunto. Mesmo conseguindo reformas, em muitos coisas principalmente para os trabalhadores brancos, os radicais brancos ainda não conseguiram derrubar o sistema e abrir o caminho para a revolução social.

A luta contra o privilégio branco também exige a rejeição da identificação deturpada dos norteamericanos como um povo “branco”, em vez de galego, alemão, irlandês etc, pela sua origem nacional. A designação “raça branca” é supernacionalidade artificial, criada para inflar a importância social das etnias europeias e transformá-las em instrumentos do sistema de exploração capitalista. Na América do Norte, a pele branca sempre implicou em liberdade e privilégio: liberdade de emprego, de viajar, de obter mobilidade social para fora da sua classe de nascimento, e todo um mundo de privilégios eurocêntricos. Portanto, antes de uma revolução social acontecer, deve haver a abolição da categoria social “raça branca” (com poucas exceções neste ensaio, vou começar a me referir a eles como “norteamericanos”).

Esses “brancos” devem cometer suicídio de classe e traição de raça para que possam realmente ser aceitos como aliados dos trabalhadores negros e oprimidos nacionalmente; toda a ideia de “raça branca” é para criar conformismo e torná-los cúmplices do assassinato em massa e da exploração. Se os “brancos” não quiserem comprometer com o legado histórico do colonialismo, da escravidão e genocídio, então devem se rebelar contra ele. Então, os “brancos” devem denunciar a identidade branca e o seus sistema de privilégios, e devem lutar para se redefinirem e ao seu relacionamento com os outros. Enquanto a sociedade branca (através do Estado, que está agindo em nome dos brancos) continuar a oprimir e dominar todas as instituições da comunidade negra, a tensão racial vai continuar a existir, e os brancos em geral vão continuar a ser vistos como inimigos.

Então, o que os norteamericanos têm que começar a fazer para derrotar o oportunismo racial, os privilégios brancos e outras formas da supremacia branca? Primeiro, eles devem derrubar os muros que os separam dos seus aliados não-brancos. Então, juntos, devem lutar contra a desigualdade no local de trabalho, nas comunidades, e na ordem social. Ainda assim, não estamos nos referindo somente aos direitos democráticos do povo africano quando falamos de”opressão nacional”. Se a questão fosse só isso, talvez com mais reformas fosse possível obter a igualdade racial e social. Mas não, não é disso que estamos falando.

Os negros (africanos nos EUA) são um povo colonizado. OS EUA são uma pátria com uma colônia interna. Para os africanos nos EUA, a nossa situação é de opressão total. Nenhum povo é realmente livre, anão ser que possa determinar o seu próprio destino. A nossa situação colonial, oprimida, de cativeiro, é que deve ser destruída, não somente esmagando o racismo ideológico ou a negação dos direitos civis. Na verdade, a não destruição da colônia interna significa provavelmente a continuação desta opressão sob outra forma. Devemos destruir a dinâmica social da própria existência dos EUA ser feita de uma nação branca opressora e uma nação negra oprimida (na verdade, várias nações cativas).

Isso exige que o movimento de libertação negra liberte uma colônia, e é por isso que não é uma simples questão dos negros se somando aos anarquistas brancos no mesmo tipo de luta contra o Estado. Também é por isso que os anarquistas não podem ter uma posição rígida contra todas as formas de nacionalismo negro (especialmente os grupos revolucionários como os Panteras Negras), mesmo se houver diferenças ideológicas sobre a forma como eles são criados e funcionam. Mas os norteamericanos devem apoiar os objetivos dos movimentos de libertação dos racialmente oprimidos, e devem desafiar abertamente e rejeitar o privilégio branco. Não existe outro caminho, e não existe atalho; a supremacia branca é uma grande barreira contra a mudança social revolucionária nos EUA.

A revolução negra e outros movimentos de libertação nacional nos EUA são partes indispensáveis da revolução social. Os trabalhadores norteamericanos devem se juntar aos africanos, latinos, e outros, para rejeitar a injustiça social, exploração capitalista e opressão nacional. Os trabalhadores norteamericanos certamente têm um papel importante em ajudar essas lutas a triunfarem. Só o apoio material que pode ser reunido pelos trabalhadores brancos para a revolução negra pode decidir a vitória ou derrota da luta, em determinada fase.

Eu estou gastando tempo para explicar tudo isso porque, previsivelmente, alguns anarquistas puristas vão tentar argumentar que ter um movimento branco é uma coisa boa, que os negros e outras nacionalidades oprimidas só têm que embarcar no “Navio Anarquista” (uma Nau dos Loucos?) e que tudo isso é só “baboseira marxista de libertação nacional”. Bem, sabemos que parte da razão de ser de um movimento anarquista antirracista é desafiar a perspectiva chauvinista dentro do nosso próprio movimento. Uma Federação Anarquista Antirracista não existiria somente para combater os nazistas. Temos que desafiar e corrigir posições racistas e doutrinárias sobre raça e classe no nosso movimento. Se não pudermos fazer isso, então não poderemos organizar a classe trabalhadora, negra ou branca, e não serviremos para nada.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

MORTE À KLAN E A TODOS OS FASCISTAS!


Ninguém menos que Adolf Hitler foi citado como tendo dito: "Só uma coisa poderia ter parado o nosso movimento Se nossos adversários tivessem entendido o seu princípio e, desde o primeiro dia, tivessen esmagado com extrema brutalidade o núcleo do nosso novo movimento." Devemos ter isso em mente.

Outra coisa que devemos fazer, e que é algo que taticamente separa a nós anarquistas dos marxistas-leninistas, é que nós usamos nossos estudos sobre a personalidade autoritária para nos ajudar a nos organizamos contra o recrutamento fascista. Tudo com que as “frentes únicas” marxistas-leninistas se preocupam é uma abordagem política rigorosa para derrotar o fascismo e impedi-los de alcançar o poder do Estado, e colocar o partido comunista em seu lugar. Eles organizam liberais e outros em coligações de massa apenas para tomar o poder e, em seguida, esmagar todos os oponentes ideológicos radicais e liberais, depois de ter feito o mesmo com os fascistas. É por isso que os Estados “comunistas” stalinistas se assemelham à política fascista que tanto afirmam recusar, ao impedir a pluralidade ideológica - ambos são totalitários. Neste ponto, quanta diferença realmente havia entre Stálin e Hitler? Então, digo que combater apenas fisicamente os fascistas não resolve a questão. Precisamos estudar o que explica a psicologia de massa do fascismo e depois derrotá-lo ideologicamente, indo ao cerne das crenças profundamente arraigadas racistas, emoções e condicionamento autoritário dos trabalhadores que apoiam o fascismo e toda autoridade do Estado policial.

O terceiro eixo da nossa estratégia é organizar os trabalhadores e outros setores oprimidos da sociedade com um programa que aborde as suas necessidades. Como já foi dito, a Klan e os nazistas recrutam entre certas camadas sociais - esmagadoramente jovens brancos pressionados pela crise econômica. Essas pessoas veem negros, latinos, asiáticos, homossexuais, mulheres e movimentos radicais como uma ameaça. Eles são racistas, reacionários e potencialmente muito violentos. Com medo de perder o pouco que têm, eles compram o mito de que os problemas são "aquelas pessoas" que tentam roubar seus empregos, casas, futuro, etc, em vez da decadência do sistema capitalista.

Enquanto não parecer haver outra alternativa a não ser lutar por uma fatia de uma "torta" encolhendo, os fascistas, com suas "soluções" simplistas, terão uma audiência entre os elementos degenerados da classe trabalhadora. A única maneira de minar seu o apelo é organizar um movimento operário libertário que possa lutar e conseguir as coisas de que as pessoas precisam - emprego, habitação decente e escolas, saúde, etc. Isso pode demonstrar concretamente que há uma alternativa para "soluções" venenosas da direita,e pode ganhar para as fileiras do movimento operário algumas dessas pessoas atraídas para o movimento fascista.

Em todas as áreas da nossa organização, temos de realizar propaganda revolucionária explicando consistentemente que o capitalismo é responsável pelo desemprego, aumento dos preços, escolas e habitação podres e o restante da decadência que vemos ao nosso redor. Devemos expor o fato de que, embora os nazistas, a Klan e outros direitistas façam dos negros, gays, latinos e outras pessoas oprimidas o bode expiatório para a crise econômica, o seu verdadeiro objetivo é destruir todo o movimento operário, cometer genocídio, iniciar guerras aventureiras e transformar os trabalhadores definitivamente em escravos do Estado. Portanto, essas forças fascistas são uma ameaça para todos os trabalhadores de todas as nacionalidades. Deve ser explicado que eles só querem usar os trabalhadores brancos como peões em seu esquema para criar uma ditadura fascista, e todos os trabalhadores devem se unir e lutar para derrubar o Estado, se quiserem ser livres. MORTE À KLAN, MORTE AOS NAZISTAS!

Destruir a direita!


"Com o fascismo não se debate. Se esmaga..."
--Buenaventura Durrutti, revolucionário anarquista espanhol, 1936

Conforme a sociedade capitalista se deteriora, as pessoas vão procurar por soluções radicais e totais para a miséria que enfrentam. Os nazistas e a Klan estão entre as poucas forças políticas de direita que oferecem, ou parecem oferecer, uma resposta radical para os problemas atuais da sociedade para as massas brancas. Que essas soluções são falsas importa pouco para as pessoas confusas e histéricas procurando desesperadamente uma saída para a crise sócioeconômica que o mundo capitalista está enfrentando. Setores da classe média, e camadas da classe trabalhadora branca em melhor situação, os trabalhadores brancos pobres e desempregados, todos envenenados pelo racismo desta sociedade, são presas fáceis para os demagogos nazistas e a Klan.
 
Os nazistas, skinheads e a Klan são as organizações racistas de direita mais extremistas / fascistas nos Estados Unidos. Hoje, esses grupos são pequenos, e muitos liberais gostam de minimizar a ameaça que representam, e até mesmo defender os seus "direitos" legais a espalhar o seu veneno racista. Mas esses grupos têm um enorme potencial de crescimento, e podem se tornar um movimento de massas em um surpreendentemente curto período de tempo, especialmente durante uma crise econômica e política, como a em que estamos agora.

Baseando-se em forças sociais brancas alienadas, os nazistas e Klan estão tentando construir um movimento de massas que possa se oferecer aos capitalistas no momento adequado, e assumir o poder do Estado. Quando o capitalista sentirem que podem precisar de um grupo adicional para manter os trabalhadores e oprimidos em linha, eles se voltarão para os nazistas, a Klan e organizações de direita semelhantes, dando muito dinheiro e apoio, além de fortalecer as polícias estaduais e forças militares. Se for necessário, os capitalistas vão colocá-los no poder (como fizeram na Espanha, Alemanha e Itália, nos anos 1920 e 1930), para que os fascistas esmaguem os sindicatos e outras organizações da classe trabalhadora; coloquem os negros, latinos, gays, asiáticos e judeus em campos de concentração; e transformem o resto dos trabalhadores em escravos do Estado. O fascismo é a máxima sociedade autoritária, quando no poder, mesmo tenha mudado a sua face, do racismo bruto ao racismo mais suave no Estado democrático moderno.
 
Assim, além dos nazistas e da Klan, há outras forças de direita que têm aumentado nos últimos 15 anos. Eles incluem os políticos de direita ultraconservadores e pregadores fundamentalistas cristãos, juntamente com a seção de extrema direita da própria classe dominante capitalista - pequenos empresários, apresentadores de talk shows como Rush Limbaugh, juntamente com professores, economistas, filósofos e outros na academia, fornecendo o armamento ideológico para a ofensiva capitalista contra os trabalhadores e povos oprimidos. Nem todos os racistas usam uniformes. Existem os racistas "respeitáveis", os novos conservadores, que são muito mais perigosos do que a Klan ou os nazistas, porque suas políticas se tornaram aceitáveis
​​para grandes massas de trabalhadores brancos que, por sua vez, culpam as minorias raciais pelos seus problemas.
 
A classe capitalista já mostrou a sua vontade de usar esse movimento conservador como uma cortina de fumaça para um ataque contra o movimento operário, a luta negra e toda a classe trabalhadora. Muitos funcionários públicos municipais foram demitidos; escolas, hospitais e outros serviços sociais sofreram cortes; agências do governo foram privatizadas; a folha dos serviços de bem-estar foi cortada drasticamente; e os orçamentos dos governos municipais e estaduais cortados. Os bancos até têm usado seus poderes ditatoriais para exigir esses cortes no orçamento, e até mesmo, declarar cidades inteiras como inadimplentes se elas não se submeterem. Isso aconteceu até mesmo com a cidade de Nova York na década de 1970. Portanto, esta não é apenas uma questão de pobres e caipiras idiotas de capuzes. Trata-se de encapuzados de terno.
Um primeiro passo na organização e preparação da classe trabalhadora na crise econômica que enfrentamos é lidar diretamente com a ameaça da direita. A legislação econômica repressiva dos políticos conservadores para punir os pobres e a classe trabalhadora deve ser derrotada; os impostos sobre as corporações mais ricas e importantes devem ser aumentados, enquanto os impostos sobre os trabalhadores e os agricultores devem ser abolidos. Se os políticos não vão fazer isso, vamos organizar um boicote imposto para forçá-los a fazê-lo. Os nazistas e a Klan devem ser enfrentados através da ação direta. Os anarquistas, as organizações de esquerda e dos trabalhores, devem se organizar para defender os trabalhadores e oprimidos das agressões físicas dos racistas, bem como realizar manifestações de massa nas ruas contra comícios fascistas. Também devemos lutar contra escórias como a Operação Resgate, que usa táticas fascistas violentas contra o direito das mulheres ao aborto. Faz parte do mesmo campo de batalha.
 
Aqui está a situação: David Duke, o "ex"–Klansman, agora faz parte da direita "respeitável", que busca apoio entre a classe média alta. Enquanto isso, os skinheads, a Klan e os nazistas estão fazendo progressos entre as diferentes camadas sociais, principalmente os trabalhadores brancos pobres e jovens brancos desempregados. Tom Metzger, líder da Resistência Branca Ariana (WAR), chamou os skinheads nazistas de seus “camisas marrons dos anos 90”. É muito perigoso, mas não podemos deixar essas pessoas para os nazistas e a Klan sem contestá-los. Devemos tentar conquistá-los, ou pelo menos neutralizar qualquer oposição ativa da sua parte. Esta é uma tática defensiva mínima, mas realmente não temos escolha, e é parte do nosso dever revolucionário organizar toda a classe trabalhadora, de qualquer maneira. Devemos direcionar propaganda a esses trabalhadores a expor os nazistas e Klan como a escória que são, e mostrar como os trabalhadores estão sendo enganados. Devemos também tornar possível para eles para combater esta miséria contra o verdadeiro inimigo: a classe capitalista.

Mas, além de operações defensivas para propaganda, devemos realizar ações ofensivas diretas para resistir fisicamente aos racistas quando isso for possível. Por exemplo, quando o equilíbrio de forças permitir, é preciso organizar a expulsão dos nazistas e da Klan das ruas, pela força. A fim de esmagar os seus movimentos, devemos organizar ações militarizadas para atacar seus comícios, fechar suas livrarias e jornais, destruir as suas salas de reuniões, e acabar com suas marchas. Uma vez que os nazistas e a Klan se organizam ameaçando e usando violência, devemos estar preparados para responder a eles na mesma moeda, mas de uma forma melhor organizada e mais eficaz. Por exemplo, porcos como David Duke e Tom Metzger, que têm defendido e dirigido o movimento fascista na América, devem ser assassinados. Devemos nos infiltrar em manifestações da Klan e nazistas, a fim de atacar os líderes de assalto e dissolvê-las, ou nos esconder à distância e atirar neles com com rifles de alta potência. Eu sempre achei que os movimentos de guerrilha clandestinos, como o Exército Negro de Libertação, Weather Underground, e a Nova Frente de Libertação Mundial deveriam ter atacado movimentos fascistas e assassinado seus líderes. Se paralisarmos os fascistas desta forma, podemos esmagar toda a direita e começar a destruir o Estado. Esta é a única maneira de parar os fascistas. 

O mito do "racismo ao contrário"


"Discriminação inversa" tornou-se o grito de guerra de todos os racistas que tentam reverter os ganhos de direitos civis conquistados pelos negros, e outras nacionalidades oprimidas, em habitação, educação, emprego e todos os aspectos da vida social. Os racistas acham que essas coisas só devem ser para os homens brancos, e que as "minorias" e as mulheres estão tomando-os dos homens brancos. Milhões de trabalhadores brancos são bombardeados todos os dias por essa propaganda racista, e que está tendo um grande impacto. Muitos brancos acreditam nessa mentira de discriminação inversa contra os brancos. Essa crença é abraçada por muitos trabalhadores brancos enganados, que consideram que a "discriminação reversa" seja, pelo menos em parte, responsável pelos problemas econômicos que muitos deles sofrem hoje. Tais crenças foram impulsionadas por Ronald Reagan em seus dois mandatos como presidente dos EUA. Reagan tentou usar esta linha de propaganda racista para precipitar uma reversão dos ganhos de direitos civis das nacionalidades oprimidas.
Quando os racistas falam do conceito de discriminação reversa, sugerem que a discriminação contra os negros e outros grupos racialmente oprimidos é uma farsa. Trocando em miúdos, afirmam sem rodeios que a aprovação da Lei de Direitos Civis em 1964 acabou com a discriminação contra os negros, latinos e outras nacionalidades, e contra as mulheres, e que, agora, a lei é discriminatória contra os brancos. Os racistas dizem que as minorias raciais e as mulheres são os novos grupos privilegiados na sociedade americana. Eles supostamente estariam tendo preferência na escolha de empregos, estágios universitários preferenciais, melhor habitação, subsídios do governo, e assim por diante, em detrimento dos trabalhadores brancos. Os racistas dizem que os programas para acabar com a discriminação não são apenas desnecessários, mas na verdade são tentativas das minorias para ganhar poder à custa dos trabalhadores brancos. Eles dizem que os negros e as mulheres não querem igualdade, mas sim a hegemonia sobre os trabalhadores brancos.

Um movimento anarquista anti-racista deve se contrapor a tal propaganda e expô-la como uma arma da classe dominante. A Lei dos Direitos Civis não causou a inflação pelo gastos "excessivos" com bem-estar, habitação, ou outros serviços sociais. Além disso, os negros não estão discriminando os brancos: os brancos não estão sendo levados para guetos; nem removidos ou proibidos de entrar em determinadas profissões; privados de educação decente; forçados à desnutrição e à morte precoce; vítimas de violência racial e repressão policial, forçados a sofrer níveis desproporcionais de desemprego e outras formas de opressão racial. Mas, para os negros, a opressão começa com o nascimento e a infância. A taxa de mortalidade infantil é quase três vezes maior do que os brancos, e a mortalidade continua por toda a vida. O fato é que a "discriminação reversa" é uma farsa. Discriminação contra os negros não é uma coisa do passado. É sistemática, difundida por toda a realidade de hoje!
 
Malcolm X apontou, nos anos 1960, que nenhum estatuto de direitos civis dará às pessoas negras a sua liberdade, e perguntou se os africanos na América eram realmente cidadãos, para que fossem necessários os direitos civis. Malcolm X observou que a luta pelos direitos civis tinha sido travada com grande sacrifício e, portanto, eles devem ser aplicados mas, se o governo não cumprir as leis, então as pessoas terão de fazê-lo, e o movimento vai ter que pressionar as autoridades governamentais para proteger os direitos democráticos. Para unir as massas do povo em um movimento antirracista da classe trabalhadora, as seguintes exigências práticas, que são uma combinação de medidas revolucionárias e reformistas radicais, para garantir os direitos democráticos, são necessárias:
 
1. solidariedade entre os trabalhadores negros e brancos. Luta contra o racismo no trabalho e na sociedade.
 
2. plenos direitos democráticos e humanos para todos os povos não-brancos. Que os sindicatos combatam o racismo e a discriminação.
 
3. autodefesa armada contra ataques racistas. Construir movimentos de massas contra o racismo e o fascismo. 

4. controle comunitário da polícia, a substituição dos policiais por uma força de defesa da comunidade eleita pelos moradores. Fim da brutalidade policial. Punição de todos os policiais assassinos.
 
5. dinheiro para a reconstrução das cidades. Criação de brigadas de obras públicas para reconstruir as áreas urbanas, formadas pelos moradores da comunidade.
 
6. pleno emprego socialmente útil, com direitos trabalhistas para todos os trabalhadores. Acabar com a discriminação racial no emprego, formação e promoção. Ações afirmativas: programas de ação para reverter as práticas de emprego racistas do passado.
07. banir a Ku Klux Klan, os nazistas e outras organizações fascistas. Punição a todos os racistas por ataques a pessoas não-brancas.
 
8. livre acesso grátis a todas as instituições de ensino para todos aqueles com a qualificação necessária. Contra a exclusão racial no ensino superior.
 
9. fim dos impostos sobre trabalhadores e pobres. Tributar os ricos e as grandes corporações.
 
10. sistema de saúde para todas as pessoas e comunidades, sem distinção de raça e de classe.
 
11. liberdade para todos os presos políticos e vítimas inocentes da injustiça racial. Abolir as prisões. Luta contra a disparidade econômica.

12 controle democrático dos sindicatos pela base, através da construção de um movimento sindical anarcossindicalista. Que os sindicatos atuem nas questões sociais.

13 Parar o assédio racista e a discriminação dos trabalhadores em situação irregular. 

Então, que tipo de Grupo Antirracista é necessário?


O movimento negro precisa de aliados em sua batalha contra a classe capitalista racista - não o habitual apoio liberal ou falso "radical", mas genuíno apoio e solidariedade da classe operária revolucionária, também chamados de "apoio mútuo" pelos anarquistas. A base de tal unidade, porém, devem ser principista e basear-se em interesses de classe, ao invés de "complexo de culpa" liberal, “boas intenções” ou oportunismo e manipulação por partidos políticos liberais ou radicais. As necessidades dos povos oprimidos devem ser o mais importante, mas eles querem apoio genuíno, não falsidade ou retórica esquerdista.

O movimento anarquista, que é predominantemente branco, deve começar a entender que precisa fazer o trabalho de propaganda entre os negros e outras comunidades oprimidas, e que precisa tornar possível que os anarquistas não-brancos se organizem em suas comunidades, lhes fornecendo recursos técnicos (impressão de zines, produção de vídeos e CDs etc) e ajudando com recursos financeiros.

Uma razão para haver tão poucos negros anarquistas é que o movimento não fornece meios para alcançar as pessoas de cor, ganhá-las para o anarquismo - e ajudá-las a se organizar. Isso tem que mudar, se quisermos que a revolução social aconteça nos Estados Unidos, e se quisermos que o anarquismo norteamericano seja mais do que um movimento pelos "direitos dos brancos".

O tipo de organização necessária deve ser uma organização "de massa", trabalhando para unir todos os trabalhadores em luta de classe comum, mas deve ser capaz de reconhecer o dever de apoiar e adotar as exigências específicas dos negros e outros povos não-brancos, tanto como os de toda classe trabalhadora. Ela deve desafiar a supremacia branca diariamente, deve refutar a filosofia e a propaganda racistas, e deve conter as mobilizações e os ataques racistas, com  autodefesa armada e luta de rua, quando necessário. O objetivo de um tal movimento de massas é ganhar a classe trabalhadora branca para uma posição antissupremacia branca, de consciência de classe; unir toda a classe trabalhadora; e confrontar diretamente e derrubar o Estado capitalista e seus governantes. A cooperação e a solidariedade de todos os trabalhadores é essencial para uma plena revolução social, e não apenas do seu setor branco privilegiado.
Por exemplo, uma organização existente como Ação Antirracista, se adotasse essa política como um grupo anarquista, deveria receber uma maior prioridade do nosso movimento. Cada cidade deveria ter coletivos como a ARA, e cada federação anarquista existente deveria ter grupos de trabalho internos que trabalhassem contra o racismo e a brutalidade policial. Na verdade, o tipo de grupo de que estou falando seria, em si, uma federação para coordenar as lutas no plano nacional e talvez até mesmo internacional.

Este seria um movimento revolucionário, que não se contentaria com sentar e ler livros, eleger alguns políticos negros ou "amigos dos trabalhadores" para o Congresso ou a Assembléia Legislativa do Estado, escrever cartas de protesto, circular petições ou outras tais táticas frouxas. Teria como exemplos os movimentos operários radicais antigos, como o IWW, assim como o movimento pelos direitos civis dos anos 1960, para mostrar que só as táticas de ação diretas de confronto e protesto militantes deram algum resultado. Teria também como exemplo a rebelião de 1992 em Los Angeles, para mostrar que as pessoas vão se revoltar, mas precisam de aliados poderosos que deem ajuda material e de informações, e de um movimento de massas existente que possa levar até a próxima etapa e espalhar a insurreição.

Os anarquistas devem reconhecer isso, e ajudar a construir um grupo antirracista militante, que seria, ao mesmo tempo, um grupo de apoio à revolução negra e um centro de organização de massas para unir a classe. É muito importante arrancar a influência de massas do movimento de igualdade racial das mãos da ala esquerda democrata-liberal da classe dominante. Os liberais de esquerda podem falar de luta mas, como eles não são a favor de derrubar o capitalismo e destruir o Estado, eles vão trair e sabotar toda a luta contra o racismo. A estratégia dos liberais de esquerda é desviar a consciência de classe para consciência estritamente racial. Eles se recusam a apelar aos interesses materiais de classe das classes trabalhadoras e classe média dos EUA em apoio aos direitos dos negros e, como resultao, permitem à extrema-direita capitalizar sem oposição o sentimento racista latente entre os brancos, bem como a sua insegurança econômica . O tipo de movimento que proponho vai entrar furar o bloqueio e atacar a supremacia branca, desmantelandos os fios que costuram o capitalismo. Sem o consenso branco de massa com a dominação do Estado americano, e o sistema de privilégio branco, o capitalismo não tem como sobreviver até a próxima década!

Raça e Classe: o caráter combinado da opressão dos negros


Devido à forma como esta nação se desenvolveu, com a exploração do trabalho africano e a manutenção de uma colônia interna, os negros e outros povos não-brancos são oprimidos tanto como membros da classe trabalhadora, como pela nacionalidade racial. Como africanos na América, eles são um povo distinto, perseguido e segregado na sociedade norte-americana. Ao lutar por seus direitos humanos e civis, acabam entrando em confronto com todo o sistema capitalista, não apenas racistas ou regiões específicas do país. A verdade logo se torna evidente: os negros não podem obter a sua liberdade dentro deste sistema porque, com base na concorrência historicamente desigual, a exploração capitalista é inerentemente racista.

Neste momento, o movimento pode ir na direção da mudança social revolucionária, ou limitar-se a ganhar reformas e direitos democráticos dentro da estrutura do capitalismo. Existe potencial para os dois. Na verdade, a fraqueza do movimento dos direitos civis nos anos 1960 foi que ele se aliou com os liberais do Partido Democrata, e lutou pela legislação de proteção dos direitos civis, em vez de apontar para a revolução social. Esta autopoliciamento dos líderes do movimento é uma lição abjeta sobre por que o novo movimento tem que ser autoativado e não depender de personalidades e políticos.

Mas se esse movimento se tornar um movimento social revolucionário, ele deve finalmente unir forças com movimentos semelhantes, como os de gays, mulheres, trabalhadores radicalizados e outros que estejam em revolta contra o sistema. Por exemplo, na década de 1960, o movimento de libertação negra funcionou como um catalisador para difundir idéias e imagens revolucionárias, que gerou os vários movimentos de oposição que vemos hoje. Isto é o que nós acreditamos que vai acontecer de novo, embora não seja o suficiente chamar por uma "unidade" estúpida como boa parte da esquerda branca faz.

Por causa das formas de opressão duais dos trabalhadores não-brancos e da profundidade do desespero social que elas criam, os trabalhadores negros irão atacar primeiro, estejam os seus potenciais aliados disponíveis ou não. Isso é  autodeterminação, e é por isso que é necessário que os trabalhadores oprimidos construiam movimentos independentes para unir os seus próprios povos em primeiro lugar. É por isso que é absolutamente necessário que os trabalhadores brancos defendam os direitos e conquistas democráticas dos trabalhadores não-brancos. Esta autoatividade das massas oprimidas (como o movimento de libertação negra) é intrinsecamente revolucionária, e é uma parte essencial do processo social revolucionário de toda a classe trabalhadora. Estas são questões que não são marginais; elas não podem ser rebaixadas ou ignoradas pelos trabalhadores brancos, se quiserem uma vitória revolucionária. Tem de ser reconhecido como um princípio cardeal por todos, que os povos oprimidos têm o direito à autodeterminação, incluindo o direito de dirigir suas próprias organizações e lutas de libertação. As vítimas de racismo sabem melhor como lutar contra ele.

Como os capitalistas usam o racismo


O destino da classe trabalhadora branca sempre esteve ligado à condição dos trabalhadores negros. Num passado tão distante como o período colonial americano, quando o trabalho negro foi importado pela primeira vez na América, escravos negros e indentured servants foram oprimidos junto com os brancos das classes mais baixas. Mas, quando os indentured servants europeus se juntaram com os negros e se rebelaram no final do século XVII, a classe proprietária decidiu “libertá-los” dando-lhes um estatuto especial como "brancos" e, portanto, uma participação no sistema de opressão.

Os incentivos materiais, bem como o status social recém-elevado, foram utilizados para garantir a fidelidade dessas classes mais baixas. Esta invenção da "raça branca" e escravidão racial dos africanos combinaram perfeitamente,e foram a forma como as classes superiores mantiveram a ordem durante o período da escravidão. Até mesmo os brancos pobres tinham aspirações de melhorar de vida, já que a sua mobilidade social foi assegurada pelo novo sistema. Esta mobilidade social, no entanto, repousava sobre as costas dos escravos africanos, que eram superexplorados.

Mas a a forma dual de trabalho, que explorou os africanos, também prendia os trabalhadores brancos. Quando eles tentaram organizar sindicatos ou lutar por salários mais altos no Norte ou no Sul, os trabalhadores brancos tiveram o tapete puxado pelos ricos, que usavam escravos negros como seu principal modo de produção. O chamado trabalho "livre" do trabalhador branco não tinha a menor chance.
Embora os capitalistas tenham usado o sistema de privilégio branco, com grande efeito, para dividir a classe trabalhadora, a verdade é que os capitalistas só favoreceram os trabalhadores brancos para usá-los contra seus próprios interesses, e não porque existisse uma verdade unidade de classe “branca”. Os capitalistas não queriam que os trabalhadores brancos se unissem com os negros contra seu governo e o sistema de exploração do trabalho. A invenção da "raça branca" foi uma farsa para facilitar essa exploração. Os trabalhadores brancos foram subornados para permitir a sua própria escravidão assalariada e a superexploração dos africanos; eles  fizeram um pacto com o diabo que dificultou todos os esforços de unidade de classe nos últimos quatro séculos.

A subjugação contínua das massas depende da competição e desunião internas. Enquanto existir discriminação e minorias raciais ou étnicas forem oprimidas, toda a classe trabalhadora será oprimida e enfraquecida. É assim porque a classe capitalista pode usar o racismo para rebaixar os salários de segmentos individuais da classe trabalhadora, incitando o antagonismo racial e forçando uma luta por empregos e serviços. Esta divisão é um processo que, em última instância, enfraquece os padrões de vida de todos os trabalhadores. Além disso, jogando brancos contra negros e outras nacionalidades oprimidas, a classe capitalista é capaz de impedir que os trabalhadores se unam contra o inimigo de classe comum. Enquanto os trabalhadores estão lutando entre si, dominação de classe capitalista é assegurada.

Para uma resistência eficaz ser feita contra a ofensiva racista atual da classe capitalista, a máxima solidariedade entre os trabalhadores de todas as raças é fundamental. A forma de derrotar a estratégia capitalista é com os trabalhadores brancos defendendo os direitos democráticos conquistados pelos negros e outros povos oprimidos, depois de décadas de duras lutas, e lutando para desmantelar o sistema de privilégio branco. Os trabalhadores brancos devem apoiar e adotar as demandas concretas do movimento negro, e devem trabalhar para abolir completamente a identidade branca. Estes trabalhadores brancos devem lutar pela unidade multicultural, e devem trabalhar com ativistas negros para construir um movimento antirracista que desafie a supremacia branca. No entanto, também é muito importante para reconhecer o direito do movimento negro ter um caminho independente de luta pelos seus interesses. Isso é o que significa autodeterminação.

Uma Análise da supremacia branca


Este livreto irá discutir brevemente a natureza do anarquismo e sua relevância para o movimento de libertação negra. Porque tem havido tantas mentiras e distorções sobre o que realmente significa o anarquismo, tanto pelos seus adversários ideológicos de direita como pelos de esquerda,que é necessário discutir os muitos mitos populares sobre o assunto. Isso por si só merece um livro, mas não é a intenção deste livreto, que é apenas o de introduzir os ideais anarquistas revolucionários para o movimento negro. Cabe ao leitor determinar se essas novas idéias são válidas e dignas de serem adotadas.

Dedicatória


Da segunda edição de Anarquismo e Revolução Negra

Dedico esta segunda edição de Anarquismo e Revolução Negra à companheira Ginger Katz, uma dos fundadores da Cruz Negra Anarquista americana há quase 15 anos. Foi Ginger Katz que, praticamente sozinha, organizou a composição, edição e impressão da primeira edição, e depoios ela saiu e vendeu-os aos milhares. Sem ela, esta segunda edição não teria sido possível.  

Ela teve que lutar para conseguir publicar os livros, e para obter uma audiência para mim e para outros anarquistas negros, que tinham coisas a dizer sobre a direção do movimento. Os "anarquistas puristas", que queriam manter o movimento como um fenômeno branco,individualista e contracultural, lutaram com unhas e dentes contra ela. Algumas destas críticas e lutas foram racismo velado, e tenho certeza de que elas frustraram e esgotaram a companheira Ginger. Mesmo assim, ela nunca transmitiu isso para mim, mas eu soube a partir de outras fontes. Lembro-me de minhas relações com anarquistas no movimento durante a década de 1970, que negavam completamente a existência do racismo como algo que devemos combater. Mas não a companheira Ginger. Ela era um dos poucos anarquistas que entendiam como foi organizado o Estado norte-americano, e como o privilégio branco divide a classe trabalhadora, para continuar a ditadura do capitalismo através de táticas de “dividir para conquistar”.

Eu ainda tenho algumas das cartas que Ginger me escreveu há 15 anos atrás, quando eu estava na prisão. Mas eu perdi contato com ela desde o início da década de 1980. Em 1983, fui libertado da prisão, e me afastei dos movimentos anarquistas e de prisão, então eu não sei onde ela está. Mas onde quer que esteja, espero que ela saiba o quanto eu aprecio o que ela fez para tornar este projeto uma realidade, e como ela lançou as sementes para o crescimento do movimento socialista libertário presente e futuro deste continente, e espero que em todo o mundo. Tenho esperança de um dia encontrá-la, talvez quando eu estiver em um lançamento nacional deste ou de outro livro que escrevi turnê do livro nacional para este e outros livros que escrevi, e simplesmente agradecer-lhe por me ajudar, quando eu não podia me ajudar. Para esta companheira, vou dar o meu amor e respeito sempre. Obrigado.

Lorenzo Kom'boa Ervin
setembro 1993