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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Em que eu acredito


Os anarquistas não acreditam todos nas mesmas coisas. Existem diferenças, e o campo é amplo o suficiente para que essas diferenças possam coexistir e ser respeitadas. Então, eu não sei em que outros acreditam, eu só sei em que eu acredito e eu vou enumerar simples, mas completamente.

Eu acredito na libertação negra, então sou um revolucionário negro. Acredito que o povo negro é oprimido, tanto como trabalhadores quanto como uma nacionalidade distinta, e só será libertado através de  uma revolução negra, que é uma parte intrínseca de uma revolução social. Eu acredito que os negros e outras nacionalidades oprimidas devem ter a sua própria agenda, visão de mundo distinta , e organizações de luta, mesmo que eles decidam trabalhar com os trabalhadores brancos.

Eu acredito na destruição do sistema capitalista mundial, então eu sou antiimperialista. Enquanto o capitalismo estiver vivo no planeta, haverá exploração, a opressão e os Estados-nação. O capitalismo é responsável pelas grandes guerras mundiais, inúmeras guerras menores, e milhões de pessoas famintas para dar lucro aos países ricos do Ocidente.

Eu acredito na justiça racial, então eu sou um antirracista. O sistema capitalista foi e é mantido pela escravidão e opressão colonial dos povos africanos, e antes hde haver uma revolução social, a supremacia branca deve ser derrotada. Eu também acredito que os africanos na América são colonizados e existiem como uma colônia interna dos EUA, pátria branca. Eu acredito que os trabalhadores brancos devem desistir de sua posição privilegiada, da sua "identidade branca", e devem apoiar os trabalhadores racialmente oprimidos em suas lutas por igualdade e libertação nacional. A liberdade não pode ser comprada escravizando e explorando os outros.

Eu acredito na justiça social e na igualdade econômica, então eu sou socialista libertário. Eu acredito que a sociedade e todas as partes responsáveis ​​pela produção devem partilhar dos produtos econômicos do trabalho. Eu não acredito no capitalismo ou no Estado, e acredito que ambos devem ser derrubados e abolidos. Eu aceito a crítica econômica do marxismo, mas não o seu modelo de organização política. Eu aceito a crítica antiautoritária do anarquismo, mas não a sua rejeição da luta de classes.

Eu acredito no controle dos trabalhadores sobre a sociedade e a indústria, então sou anarcossindicalista. O sindicalismo anarquista é sindicalismo revolucionário, onde as táticas de ação direta são usadas ​​para combater o capitalismo e tomar o controle da indústria. Eu acredito que os comitês de fábrica, conselhos de trabalhadores e outras organizações trabalhistas devem organizar os locais de trabalho, e devem tirar o controle dos capitalistas, depois de uma campanha de ação direta de sabotagem, greves, ocupações de fábricas e outras ações.

Eu não acredito no governo e, assim eu sou um anarquista. Eu acredito que o governo é uma das piores formas de opressão modernas, é a fonte de guerra e opressão econômica, e deve ser derrubado. Anarquismo significa que teremos mais democracia, igualdade social e prosperidade econômica. Eu sou contra todas as formas de opressão encontradas na sociedade moderna: o patriarcado, a supremacia branca, o capitalismo, o comunismo de Estado, imposições religiosas, discriminação contra os gays etc.

Por que eu sou anarquista?


O movimento anarquista na América do Norte é predominantemente branco, de classe média e, em sua maior parte, pacifista; assim surge a pergunta: por que eu sou parte do movimento anarquista, já que eu não sou nenhuma dessas coisas? Bem, embora o movimento não possa ser agora o que eu acho que deveria ser na América do Norte, eu visualizo um movimento de massas que terá centenas de milhares, talvez milhões, de negros, latinoamericanos e outros trabalhadores não-brancos. Não será um movimento anarquista em que os trabalhadores negros e outros oprimidos vão simplesmente "entrar" - será um movimento independente com a sua própria visão social, imperativo cultural, e agenda política. Será anarquista em sua essência, mas também irá estender o anarquismo a um grau que nenhum grupo social ou cultural europeu anterior já tenha feito. Estou certo de que muitos destes trabalhadores vão acreditar, como eu, que o anarquismo é a forma mais democrática, eficaz e radical para obter a nossa liberdade, mas que devemos ser livres para projetar os nossos próprios movimentos, sendo compreendidos ou " aprovados" pelos anarquistas norteamericanos ou não. Temos de lutar pela nossa liberdade, ninguém mais pode nos libertar, mas eles podem nos ajudar.

Eu escrevi esse livreto para: (1) inspirar uma federação nacional antirracista e antipolicial contra a violência policial, que seria iniciada pelos anarquistas ou, pelo menos com forte participação de anarquistas; (2) criar uma coalizão entre anarquistas e organizações negras revolucionárias, como o novo movimento dos Panteras Negras da década de 1990; e (3) para desencadear uma nova efervescência revolucionária em organizações nas comunidades afroamericanas e de outros povos oprimidos, onde o anarquismo é somente uma curiosidade, se tanto. Eu pensei que se um revolucionário libertário sério e respeitado colocar essas idéias adiante, elas seriam mais propensas a ser levadas em consideração, o que não seria o caso se fosse um anarquista branco, ainda que bem intencionado. Eu acredito que eu estou correto sobre isso. Então,é por isso que eu sou anarquista.

Na década de 1960, eu fazia parte de uma série de movimentos revolucionários negros, incluindo o Partido dos Panteras Negras, que eu me sinto que fracassou, em parte, por causa do estilo de direçãoautoritário de Huey P. Newton, Bobby Seale e outros do Comitê Central. Esta não é uma recriminação contra os indivíduos, mas muitos erros foram cometidos porque a direção nacional era muito separado dos núcleos nas cidades de todo o país e, portanto, comprometida pelo "dirigismo", ou seja, trabalho forçado ditado pelos líderes. Mas muitas contradições também foram criadas por causa da estrutura da organização como grupo marxista-leninista. Não havia muita democracia interna do partido e, quando as contradições surgiram, foram os líderes que decidiram sobre a sua resolução, e não os membros. Expurgos se tornaram  comuns, e muitas pessoas boas foram expulsas do grupo, simplesmente porque não concordavam com a direção.

Devido à importância excessiva da direção central, a organização nacional foi finalmente liquidada integralmente, embalada e enviada de volta para Oakland, Califórnia. Claro, muitos erros foram cometidos porque o BPP era uma organização jovem e estava sob ataque intenso do Estado. Eu não quero dar a entender que os erros internos foram as principais contradições que destruíram o BPP. Os ataques da polícia contra ele que o foram mas, se ele fosse melhor e mais democraticamente organizado, pode ter suportado o ataque. Portanto, esta não é uma crítica sem sentido ou facada nas costas. Eu amava o partido. E, de qualquer maneira, nem eu nem qualquer outra pessoa que critique o partido retrospectivamente, nunca vai tirar o enorme papel que o BPP teve no movimento de libertação negra da década de 1960. Mas temos de olhar para uma imagem completa das organizações a partir desse período, de modo que nós não repitamos os mesmos erros.

Acho que o meu breve período nos Panteras foi muito importante, porque ele me ensinou sobre os limites da - e até mesmo o fracasso da - direção em um movimento revolucionário. Não foi questão de um defeito de personalidade de determinado líder, mas sim uma percepção de que, muitas vezes, os líderes têm uma agenda, e os seguidores têm outra.

Eu também aprendi essa lição durante a minha associação com o Partido Socialista Popular Africano (APSP) durante os anos 1980. Quando eu saí de circulação, eu conheci Omali Yeshitela, quando eu estava preso na penitenciária federal de Leavenworth (Kansas), quando ele foi convidado a nossas festividades anuais do Dia da Solidariedade Negra, em 1979. Esta associação continuou quando eles formaram a associação de presos negros, a Organização Nacional Africana de Prisões, pouco depois. A ANPO foi definitivamente uma boa organização de solidariedade, e, juntamente com a filial de Kentucky da Aliança Nacional contra o Racismo e a Repressão Política, o Comitê News and Letters e a Federação Anarquista Revolucionária Social (agora extinta), eles escreveram cartas e fizeram telefonemas para que eu fosse hospitalizado quando tive tuberculose, o que salvou a minha vida. Mas o grupo quebrou quando a coalizão de organizações fundadoras desabou devido ao sectarismo.

Depois que eu saí da prisão, eu perdi o contato com eles, já que eles se mudaram de Louisville para a Costa Oeste. Só em 1987 que eu entrei novamente em contato com eles, quando estávamos organizando uma manifestação em massa contra a brutalidade policial na minha cidade natal. Eles foram convidados e vieram pro ato, juntamente com a ANPO e várias forças de esquerda e, durante dois anos, com idas e vindas, eu me associei com eles. Mas eu sempre vi o APSP politicamente como uma organização autoritária e, mesmo nunca tendo sido membro, eu fiquei cada vez mais desconfortável com as suas políticas organizacionais. No verão de 1988, eu fui para Oakland, Califórnia, para assistir a uma "escola de organizadores", mas eu queria um grupo em que eu ficasse satisfeito com o funcionamento interno. Durante seis semanas, eu trabalhei com eles, fora das suas sedes nacionais, na comunidade local. Eu consegui descobrir por mim mesmo sobre assuntos internos e sobre a política do grupo. Eu descobri  toda uma história de lutas de frações, expurgos, um estilo de direção ditatorial do Partido. Em Oakland, fui convidado para participar de uma reunião na Filadélfia,para reconstruir a ANPO.

Eu participei da reunião na Filadélfia, mas fiquei muito preocupado quando eu fui colocado automaticamente como parte de uma chapa para a direção da ANPO, sem qualquer discussão democrática real sobre a composição proposta, ou sem permitir que outros se apresentassem como candidatos potenciais. Eu fui colocado com o maior dirigente do grupo, de fato. Embora eu ainda acredite que deve haver um movimento de massas de presos políticos e, especialmente, presos políticos negros, me convenci de que não era este. Eu acredito é necessária uma verdadeira coalizão de forças negras e movimentos progressistas para construir uma base de massas de apoio. Eu tenho a sensação de que essas pessoas só queriam construir o seu partido, em vez de libertar os prisioneiros, e então eu simplesmente saí e não lidei com eles desde então. Fiquei muito desiludido e deprimido quando soube a verdade. Eu não vou ser usado por ninguém - não por muito tempo.

Os estágios iniciais do Comitê Coordenador Estudantil Não-Violento (SNCC) foram um contraste, em muitos aspectos, com qualquer grupo de libertação negra que veio antes ou depois. Parte dos ativistas do SNCC eram intelectuais universitários de classe média, com um pequeno número de ativistas de base da classe trabalhadora, mas eles desenvolveram um estilo de trabalho muito antiautoritário, que era exclusivo do movimento dos direitos civis. Em vez de trazer um líder nacional para conduzir as lutas locais, como o Dr. Martin Luther King Jr. e seu grupo, o Conselho da Liderança Cristã Sulista (SCLC), estavam acostumados a fazer, o SNCC enviava organizadores de campo para trabalhar com as pessoas locais e desenvolver uma liderança nativa, e ajudar a organizar, mas não controlar as lutas locais. Eles colocaram a sua fé na capacidade das pessoas para determinarem uma agenda que seria melhor para a obtenção de seus objetivos, ao invés de serem inspirados ou receberem ordens de um líder.O próprio SNCC não tinha líderes fortes, apesar de ter pessoas com autoridade na tomada de decisão, mas que eram responsáveis ​​perante a base e a comunidade, de uma forma sem igual em nenhum outro grupo no movimento dos direitos civis.

O SNCC também era uma organização laica, em contraste com SCLC, que foi formado por pregadores negros e copiou a forma de organização da igreja negra, com uma figura religiosa de autoridade que dava ordens às tropas. Hoje, a maioria dos comentaristas políticos e historiadores ainda não querem dar o devido crédito à eficácia do SNCC, mas muitas das lutas mais poderosas e bem-sucedidas do movimento dos direitos civis foram iniciadas e vencidas pelo SNCC, incluindo a maioria das lutas pelos direitos de voto e a fase do Mississippi do movimento de libertação. Eu aprendi muito sobre democracia interna sendo do SNCC, como ela pode construir ou quebrar uma organização, e como ela tem muito a ver com a moral dos membros. Todo mundo tinha a oportunidade de participar da tomada de decisões, e se sentir parte de uma grande missão histórica, que mudaria suas vidas para sempre. E eles estavam certos. Mesmo que o SNCC tenha dado muitas lições para a vida inteira para todos nós envolvidos, mesmo que tenha sido destruído pelos ricos e por si mesmo, por causa do seu estilo autoritário em anos posteriores.

Eu também comecei um processo de reformulação depois que eu fui forçado a deixar os EUA e ir para Cuba, a Checoslováquia e outros países do "bloco socialista", como era chamado. Ficou claro que esses países eram essencialmente Estados policiais, apesar de terem trazido muitas reformas significativas e avanços materiais para seus povos, em relação ao que existia antes. Observei também que o racismo também existe nesses países, juntamente com a negação dos direitos democráticos básicos e a pobreza em uma escala que eu não teria pensado possível. Vi também uma grande quantidade de corrupção entre os líderes do Partido Comunista e os administradores do Estado, que estavam bem de vida, enquanto os trabalhadores eram meros escravos assalariados. Eu pensei para mim mesmo, "tem que haver um caminho melhor!". Há sim. É o anarquismo, sobre o qual comecei a ler quando fui capturado na Alemanha Oriental,e ouvi falar mais um pouco quando eu estava finalmente preso nos Estados Unidos.

A prisão é um lugar onde se pensa continuamente sobre sua vida passada, incluindo a análise de idéias novas ou contrárias, e eu comecei a pensar sobre o que eu tinha visto no movimento negro, junto com meus maus-tratos em Cuba, a minha captura e fuga na Tchecoslováquia, e a minha captura final na Alemanha Oriental. Eu repassei tudo isso, cada vez mais na minha cabeça. Eu fui apresentado pela primeira vez ao anarquismo em 1969, logo depois que eu fui trazido de volta para os EUA e foi colocado na prisão federal em Nova Iorque, onde eu conheci Martin Sostre. Sostre me contou sobre como sobreviver na prisão, a importância de lutar pelos direitos democráticos dos presos, e sobre o anarquismo. Este curso de curta duração sobre anarquismo, entretando, não deu muito certo, mesmo que eu respeitasse muito o Sostre como pessoa, porque eu não entendi os conceitos teóricos.

Finalmente, por volta de 1973, depois que eu tinha sido preso por cerca de três anos, comecei a receber literatura anarquista e correspondência de anarquistas que tinham ouvido falar sobre o meu caso. Isso começou a minha metamorfose lenta para um anarquista convicto que, na verdade, só aconteceu alguns anos depois. Durante a década de 1970, eu fui adotado pela Cruz Negra Anarquista/Inglaterra e também por um grupo anarquista holandês chamado HAPOTOC (Comitê Organizador Ajude um Prisioneiro Lute contra a Tortura), que organizou uma campanha de defesa. Isto provou ser crucial,no fim, para levar pessoas de todo o mundo a escreverem para o governo dos EUA para exigir a minha libertação.

Eu escrevi uma sucessão de artigos para a imprensa anarquista, e foi membro da Federação Anarquista Revolucionária Social, da IWW, e de uma série de outros grupos anarquistas dos EUA e do mundo todo. Mas eu fiquei abatido pelo fracasso do movimento anarquista em lutar contra a supremacia branca e sua falta de política classista. Então, em 1979, eu escrevi um livreto chamado O Anarquismo e a Revolução Negra, para servir como guia para a discussão desses assuntos por nosso movimento. Finalmente, em 1983, fui libertado da prisão, depois de ter ficado preso quase 15 anos.

Por todos estes anos, o livreto influenciou uma série de anarquistas que se opunham ao racismo e também queriam uma abordagem mais classista do que a então proporcionada pelo movimento. Enquanto isso, eu tinha caído fora do movimento anarquista por desgosto, e não foi até 1992, quando eu estava trabalhando na minha cidade natal de Chattanooga, Tennessee, como organizador comunitário antirracista, que eu procurei um anarquista chamado John Johnson e mais uma vez fiz contato. Ele me deu um número do jornal Love and Rage e, como resultado, entrei em contato com Chris Day, da Love and Rage, e com os companheiros da WSA em Nova York. O resto, como dizem, é história. Desde então, eu voltei pra acertar as contas.

De repente, eu vejo agora que existem outros no movimento que entendem o funcionamento da supremacia branca, e eles têm me encorajado a reescrever este panfleto. Eu o fiz com gratidão. Por que eu sou anarquista? Eu tenho uma visão alternativa sobre o processo revolucionário. Há um caminho melhor. Vamos começá-lo!

Anarquistas e organização revolucionária


Outra mentira sobre o anarquismo é que eles são niilistas e não acreditam em nenhuma estrutura organizacional. Os anarquistas não são contra a organização. Na verdade, o anarquismo está principalmente preocupado em analisar a forma como a sociedade está atualmente organizada, ou seja, o governo.

O anarquismo é todo sobre organização, mas trata-se de formas alternativas de organização ao que já existe. A oposição do anarquismo à autoridade leva à visão de que a organização deve ser não-hierárquica e a adesão, voluntária. A revolução anarquista é um processo de construção e reconstrução de organização. Isso não significa a mesma coisa que o conceito marxista-leninista de "construção do partido", que se trata apenas de reforçar o papel dos dirigentes partidários e expulsar os membros aqueles que têm uma posição independente. Esses expurgos são métodos de dominação que os M-L usam para expulsar a democracia de seus movimentos, mas eles jocosamente chamam isso de "centralismo democrático".

O que significa organização dentro do anarquismo é organizar as necessidades das pessoas em organizações sociais não-autoritárias para que elas possam cuidar de seus próprios assuntos em de igualdade. Significa, também, a união de pessoas afins com a finalidade de coordenar o trabalho que tanto os grupos como os indivíduos sintam necessários para a sua sobrevivência, bem-estar, e subsistência. Então,como o anarquismo envolve pessoas que se reúnem com base nas necessidades e interesses mútuos, a cooperação é um elemento chave. Um objetivo principal é que as pessoas devam falar por si mesmas, e que todos no grupo sejam igualmente responsáveis pelas decisões do grupo; não há líderes ou chefes aqui!

Muitos anarquistas veriam as necessidades organizacionais de grande escala em termos de pequenos grupos locais organizados no local de trabalho, coletivos, bairros e outras áreas, que iriam enviar delegados às comissões maiores que  tomam as decisões sobre questões de interesse mais amplo. O trabalho de delegado não seria por tempo integral; haveria um rodízio. Apesar das suas despesas imediatas serem pagas, o delegado seria não-remunerado, revogável ​apenas porta-voz das decisões do grupo. As várias escolas do anarquismo diferem na ênfase relativa à organização. Por exemplo, os anarcossindicalistas salientam o sindicato revolucionário e outras formações no local de trabalho como a unidade básica da organização, enquanto os anarco-comunistas reconhecem a comuna como a mais alta forma de organização social. Outros podem reconhecer outras formações como a mais importante, mas todos eles reconhecem e apoiam organizações populares livres e independentes como o caminho a seguir.

O núcleo da organização anarquista-comunista é o Grupo de Afinidade. O grupo de afinidade é um círculo revolucionário ou "célula" de amigos e companheiros que estão em sintonia uns com os outros, tanto na ideologia e como indivíduos. O grupo de afinidade existe para coordenar as necessidades do grupo, expresso pelos indivíduos e pela célula comoum todo. O grupo se torna uma família extensa; o bem-estar de cada um torna-se a responsabilidade de todos.

"Autônoma, comunitário e directamente democrático, o grupo combina a teoria revolucionária com estilo de vida revolucionário em seu comportamento cotidiano. Ele cria um espaço livre no qual os revolucionários podem refazer-se individualmente, e também como seres sociais."
- Murray Bookchin, em Post Scarcity Anarchism

Também podemos nos referir a essas formações como "grupos de afinidade para a revolução viva", porque eles vivem a revolução agora, mesmo que apenas em forma de semente. Porque os grupos são pequenos - de três a quinze - eles podem começar a partir de uma base mais forte de solidariedade do que somente a estratégia política. Os grupos seriam o meio de actividade política número um de cada membro. Há quatro áreas de intervenção onde os grupos de afinidade trabalham:

1. Apoio Mútuo: isto significa dar apoio e solidariedade entre os membros, bem como o trabalho coletivo e responsabilidade.
2. Educação: além de educar a sociedade em geral sobre os ideais anarquistas, inclui o estudo dos membros para fazer avançar a ideologia dos grupos, bem como para aumentar o seu conhecimento político, econômico, científico e técnico.
3. Ação: significa a organização real e o trabalho político do grupo fora do coletivo, onde se espera que todos os membros contribuam.
4. Unidade: o grupo é uma forma de família, uma reunião de amigos e companheiros, pessoas que se importam com o bem-estar uns dos outros, que amam e apoiam uns aos outros, que se esforçam para viver no espírito de cooperação e de liberdade; vazio de desconfiança, ciúme, ódio, concorrência e outras formas de idéias sociais e comportamentos negativos. Em suma, grupos de afinidade permitem que um coletivo viva um estilo de vida revolucionário.

Uma grande vantagem dos grupos de afinidade é que eles são altamente resistentes à infiltração policial. Como os membros do grupo são íntimos, os grupos são muito difíceis de infiltrar agentes, e mesmo se um grupo é infiltrado, não existe um "comitê central" que daria a um agente informações sobre o movimento como um todo. Cada célula tem sua própria política, agenda e objetivos. Por isso, eles teriam de se infiltrar em centenas, talvez milhares, de grupos semelhantes. Além disso, uma vez que os membros todos se conhecem, eles não poderiam criar os distúrbios sem risco de exposição imediata, o que neutralizaria uma operação como o COINTELPRO, usado pelo FBI contra os movimentos progressistas e negros durante a década de 1960. Além disso, como não existem líderes do movimento, não há ninguém para atacar e destruir o grupo.

Como eles podem crescer assim como as células biológicas, por divisão, eles podem proliferar rapidamente. Pode haver centenas de pessoas em uma grande cidade ou região. Eles preparam o surgimento de um movimento de massas; eles vão organizar um grande número de pessoas, a fim de coordenar as actividades, conforme fica aparente a sua necessidade e as condições sociais ditam. Grupos de afinidade funcionam como um catalisador no seio do movimento de massas, empurrando-o para níveis mais elevados de resistência às autoridades. Mas eles são perfeitos para o trabalho clandestino em caso de repressão política aberta ou insurreição em massa.

Isso nos leva ao próximo nível de organizações anarquistas, a federação regional. Federações são as redes de grupos de afinidade que se reúnem a partir de necessidades comuns, que incluem educação,apoio mútuo, ação e qualquer outra obra considerada necessária para a transformação da sociedade atual do Estado autoritário para anarco-comunismo Um exemplo de como uma federação anarco-comunista poderia ser estruturada: Em primeiro lugar, é a organização da área, que pode cobrir uma grande cidade ou município. Todos os grupos de afinidade semelhantes na área iriam associar-se numa federação local. Os acordos sobre a ideologia, o apoio mútuo e que ações tomar seriam feitos em reuniões em que todos podem vir e ter voz igual.

Quando a organização local atinge um tamanho considerado grande demais, a federação da área iria iniciar um Conselho de Coordenação por Consenso. O objetivo do Conselho é coordenar as necessidades e ações definidas por todos os grupos, incluindo a possibilidade de dividir e criar uma outra federação. Cada grupo de afinidade de área local seria convidado a enviar representantes para o conselho, trazendo todos os pontos de vista do seu grupo e, como delegado, poderia votar e participar na elaboração de políticas em nome do grupo no conselho.

Nossa próximo federação seria em base regional, por exemplo, toda a região Sul ou Centro-Oeste. Esta organização iria cuidar de toda a região com os mesmos princípios de consenso e de representação. Em seguida, viria uma federação nacional para cobrir os EUA, e a federação continental, que abrangeria o continente da América do Norte. Finalmente, haveriam as organizações globais, que seriam a ligação em rede de todas as federações em todo o mundo. Quanto a ele, como os anarquistas não reconhecem fronteiras nacionais e desejam acabar com o Estado-nação, eles assim se federam com todas as outras pessoas afins, onde quer que estejam vivendo no planeta Terra.

Mas para o anarquismo para realmente funcionar, as necessidades das pessoas devem ser satisfeitas. Assim, a primeira prioridade dos anarquistas é o bem-estar de todos; portanto, devemos organizar os meios para atender plena e igualmente as necessidades do povo. Em primeiro lugar, os meios de produção, transporte e distribuição devem ser organizados em organizações revolucionárias que os trabalhadores e a comunidade dirijam e controlem. A segunda prioridade dos anarquistas é lidar com as organizações comunitárias, além da organização industrial. Quaisquer que sejam as necessidades da comunidade, deve-se lidar com elas. Isto significa organização. Inclui grupos cooperativos para satisfazer necessidades como saúde, energia, emprego, assistência à infância, habitação, escolas alternativas, alimentação, entretenimento, e outras áreas sociais. Estes grupos comunitários formariam uma comunidade cooperativa, o que seria uma rede organizações comunitárias e serviria como uma infraestrutura sóciopolítica anarquista. Esses grupos devem trabalhar em rede com os de outras áreas para a educação, apoio mútuo e ação, e se tornar uma federação em escala regional.

Em terceiro lugar, os anarquistas teriam de lidar com a doença social. Não somente nós nos organizamos pelas necessidades físicas do povo, mas temos também que trabalhar e propagandear para curar os males incubados pelo Estado, que distorceu a personalidade humana sob o capitalismo. Por exemplo, a opressão das mulheres deve ser abordadas. Ninguém pode ser livre se 51 por cento da sociedade é oprimida, dominada e abusada. Não só temos de formar uma organização para lidar com os efeitos nocivos do sexismo, mas trabalhar para garantir que o patriarcado seja morto, educando a sociedade sobre os seus efeitos nocivos. O mesmo deve ser feito com o racismo, mas, além de reeducação da sociedade, nós trabalharemos para aliviar a opressão social e econômica dos negros e outros povos não-brancos, e empoderá-los para a autodeterminação para levar uma vida livre. Os anarquistas precisam formar grupos para expor e combater o preconceito racial e a exploração capitalista, e dar total apoio e solidariedade ao movimento de libertação negra.

Finalmente, o anarquismo teria que lidar com uma série de áreas demasiado numerosas para mencionar aqui - ciência, tecnologia, ecologia, desarmamento, direitos humanos e assim por diante. Temos de aproveitar as ciências sociais e fazê-las servir o povo, enquanto nós coexistimos com a natureza. Os autoritários tolamente acreditam que é possível "dominar" a natureza, mas não é o caso. Nós somos apenas uma, entre uma série de espécies que habitam este planeta, mesmo se somos os mais inteligentes. Mas, se as outras espécies não criaram armas nucleares, começaram guerras onde milhões foram mortos, ou se envolveram em discriminação contra as raças de suas subespécies, tudo o que a humanidade tem feito, então, quem pode dizer qual delas é a mais "inteligente?"

Anarquismo, Violência e Autoridade


Uma das maiores mentiras sobre anarquistas é que eles são estúpidos lançadores de bombas e assassinos. As pessoas espalham estas mentiras por suas próprias razões: os governos, porque eles têm medo de ser derrubados pela revolução social; os marxistas-leninistas, porque é uma ideologia adversária com um conceito totalmente diferente sobre organização social e luta revolucionária; e a Igreja, porque o anarquismo não acredita em divindades e seu racionalismo pode afastar os trabalhadores da superstição. É verdade que essas mentiras e propaganda são capazes de influenciar muitas pessoas, principalmente porque eles nunca ouvem o outro lado. Os anarquistas recebem má imprensa e são um bode expiatório de todos os políticos, de direita ou esquerda.

Como uma revolução social é uma revolução anarquista, que não só elimina uma exploração de classe para outra, mas todos os exploradores e instrumento de exploração, o Estado. Como é uma revolução pelo poder popular, em vez do poder político; como suprime tanto o dinheiro como a escravidão assalariada; como os anarquistas lutam pela democracia total e liberdade, em vez de políticos para representar as massas no Parlamento, no Congresso, ou no Partido Comunista; como os anarquistas são pela autogestão dos trabalhadores da indústria, em vez de regulamentação do governo; como anarquistas são pela a diversidade plena, sexual, racial, cultural e intelectual, em vez de chauvinismo sexual, repressão cultural, censura e opressão racial; mentiras tiveram que ser criadas, dizendo que os anarquistas são assassinos, estupradores, ladrões, incendiários, elementos nocivos, o pior do pior.

Mas vamos olhar para o mundo real e ver quem está causando toda essa violência e repressão aos direitos humanos. O assassinato cometido pelos exércitos permanentes na Primeira e Segunda Guerras Mundiais, a pilhagem e estupro das antigas possessões coloniais, invasões militares ou as chamadas "operações policiais" na Coréia e no Vietnã - tudo isso tem sido feito pelos governos. É o governo, e a classe dominante do Estado, que é a fonte de toda a violência. Isto inclui todos os governos. O chamado mundo "comunista" não é comunista, e o mundo "livre" não é livre.No Oriente e no Ocidente, o capitalismo, privado ou estatal, continua a ser um tipo desumano de sociedade onde a grande maioria é mandada no trabalho, em casa, e na comunidade. Propaganda (notícias e literatura), policiais e soldados, prisões e escolas, valores tradicionais e moralidade, tudo serve para reforçar o poder dos poucos e convencer ou conformar muitos à aceitação passiva de um sistema irracional brutal e degradante. É por isso que os anarquistas dizem que autoridade é opressão, e é exatamente esse regime autoritário que existe nos Estados Unidos da América, bem como nos "governos comunistas da China ou Cuba.

O que é a coisa que chamamos de governo? É algo além de violência organizada? A lei o ordena a obedecer e, se você não obedecer, vai obrigá-lo pela força. Todos os governos, toda a lei e toda a autoridade se baseiam na força e na violência, na punição ou medo da punição.
- Alexander Berkman, no ABC do Anarquismo

Há revolucionários, incluindo muitos anarquistas, que defendem a derrubada armada do Estado capitalista. Eles não defendem ou praticam assassinatos em massa, como os governos do mundo moderno com seus estoques de bombas nucleares, gás venenoso e armas químicas, forças aéreas, marinhas e enormes exércitos, e que são hostis uns aos outros. Não foram os anarquistas que provocaram duas guerras mundiais, onde mais de 100 milhões de pessoas foram abatidas; nem foram os anarquistas que invadiram e massacraram os povos da Coreia do Sul, Panamá, Somália, Iraque, Indonésia e outros países que sofreram ataques militares imperialistas. Não foram os anarquistas que enviaram exércitos de espiões em todo o mundo para assassinar, corromper, subverter, derrubar e se intrometer em assuntos internos de outros países, como a CIA, KGB, MI6 ou outras agências de espionagem nacionais, nem os usaram como polícia secreta para defender os governos nacionais em vários países, não importa o quão repressivos e impopulares fossem os regimes. Além disso, se o seu governo faz de você um policial ou soldado, você mata e reprime as pessoas em nome da "liberdade" ou "lei e ordem".

"Você não questiona o direito do governo para matar, para confiscar e prender. Se uma pessoa privada fosse culpada das coisas que o governo está fazendo o tempo todo, você iria chamá-lo de assassino, ladrão e canalha. Mas, se a violência cometida for 'legal' você a aprova e aceita. Por isso, não é à violência real que você se opõe, e sim às pessoas usando a violência de forma ilegal."
- Alexander Berkman, no ABC do anarquismo.

Se falamos honestamente, temos que admitir que todo mundo acredita na violência e a pratica, mesmo que a condene nos outros. Ou eles a cometem por si próprios ou a polícia e o exército fazem em seu nome como agentes do Estado. Na verdade, todas as instituições governamentais que atualmente apoiamos e toda a vida da sociedade atual são baseados em violência. Na verdade, os EUA são o país mais violento na terra ou, como um camarada do SNCC, H. Rap ​​Brown, disse: "A violência é tão americana quanto a torta de maçã (!)". Os Estados Unidos vão para o mundo todo cometer violência, assassinam chefes de Estado, derrubam governos, massacram civis na casa das centenas de milhares, e transforma nações cativas em prisões, como está fazendo no Iraque e na Somália, atualmente. Espera-se que nos submetamos passivamente a estes crimes de conquista, essa é a marca de um cidadão de bem.

Então, os anarquistas não têm o monopólio da violência, e quando ela foi usada na chamada "propaganda pelo ato", foi contra os tiranos e ditadores, e não contra as pessoas comuns. Estas represálias individuais - bombardeios, assassinatos, sabotagens - foram esforços para responsabilizar pessoalmente quem está no poder ​​pelos seus atos injustos e sua autoridade repressiva. Mas, na verdade, anarquistas, socialistas, comunistas e outros revolucionários, bem como patriotas e nacionalistas, e até mesmo reaccionários e racistas como a Ku Klux Klan ou os nazistas, todos usaram a violência por uma variedade de razões. Quem não ficaria feliz se um ditador como Hitler fosse morto por assassinos, e, assim, poupasse o mundo do genocídio racial e da Segunda Guerra Mundial? Além disso, todas as revoluções são violentas, porque a classe opressora não vai abandonar o seu poder e seus privilégios sem uma luta sangrenta. Então, de qualquer forma, não temos escolha.

Basicamente, todos preferiríamos ser pacifistas. E como o Dr. Martin Luther King Jr. aconselhou, preferimos resolver nossas diferenças com compreensão, amor e raciocínio moral. Vamos tentar estas soluções em primeiro lugar, sempre que possível. Na loucura que reina, no entanto, o nosso movimento reconhece a necessidade de estarmos preparados. É muito perigoso sermos ignorantes das formas de nos defender, se queremos continuar o nosso trabalho revolucionário. Se familiarizar com uma arma e seus usos não significa que você deve imediatamente sair e usar essa arma, mas que, se você precisar usá-la, você poderá usá-la bem. Somos forçados a reconhecer que os movimentos progressistas e radicais americanos têm sido pacifistas demais para serem verdadeiramente eficazes. Também percebemos que os grupos abertos que propunham mudanças cooperativas e eram basicamente não-violentos, como a IWW, foram esmagados violentamente pelo governo e, finalmente, temos o lamentável exemplo do próprio Dr. Martin Luther King, Jr., que foi assassinado em 1968 por uma conspiração de agentes do Estado, provavelmente o FBI.

Entenda que, quanto mais sucesso tivermos em nosso trabalho, mais perigosa vai se tornar a nossa situação, porque, então, seremos reconhecidos como uma ameaça para o Estado. E - não se engane - a insurreição está chegando. Uma Intifada americana que vai desestabilizar o Estado. Portanto, estamos falando de um levante espontâneo, prolongado, da grande maioria do povo, e da necessidade de defender nossa revolução social. Embora reconheçamos a importância da violência paramilitar defensiva, e mesmo de ataques de guerrilha urbana, nós não dependemos da guerra para alcançar nossa libertação, porque a nossa luta não pode ser vencida somente pela força das armas. Não, o povo deve estar armado previamente com entendimento e acordo sobre os nossos objectivos, bem como confiança e amor pela revolução, e as nossas armas militares são apenas uma expressão de nosso espírito orgânico e solidariedade. Amor perfeito pelo povo, ódio perfeito pelo inimigo. Como o revolucionário cubano Che Guevara, disse: "Quando um cai, outro deve tomar (seu) lugar, e a raiva de cada morte renova a razão para a luta".

Os governos do mundo cometem muito da sua violência reprimindo qualquer tentativa de derrubar o Estado. Os crimes de repressão ao povo geralmente têm beneficiado quem está no poder, especialmente se o governo é poderoso. Olhe para o que aconteceu nos Estados Unidos, quando a revolução negra da década de 1960 foi reprimida. Muitos que protestavam contra a injustiça foram presos, assassinados, feridos ou ficaram na lista negra - tudo feito pelas agências de polícia secreta do Estado. O movimento foi derrotado por décadas, como resultado. Portanto, não podemos apenas depender somente de mobilizações de massas, ou apenas realizar ofensivas clandestinas, se quisermos derrotar o Estado e a sua repressão: alguns caminho do meio entre os dois deve ser encontrado. No futuro, o nosso trabalho vai incluir o desenvolvimento de técnicas coletivas de autodefesa, bem como trabalho clandestino, enquanto nós trabalhamos para a revolução social.

O capitalismo, o Estado e a Propriedade Privada


A existência do Estado e do Capitalismo é racionalizada por seus apologistas como sendo um "mal necessário" devido à alegada incapacidade da maior parte da população para executar seus próprios negócios e os da sociedade, bem como a sua proteção contra o crime e violência. Os anarquistas percebem que muito pelo contrário, as principais barreiras para uma sociedade livre são oEstado e a instituição da propriedade privada. É o Estado que cria a guerra, a repressão policial e outras formas de violência, e é a propriedade privada - a falta de igualdade de distribuição da grande riqueza social, que cria a criminalidade e a privação.

Mas o que é o Estado? O Estado é uma abstração política, uma instituição hierárquica, através da qual uma elite privilegiada se esforça para dominar a grande maioria das pessoas. Os mecanismos do Estado incluem um conjunto de instituições como as assembleias legislativas, a burocracia do serviço público, as forças militares e de polícia, da justiça e prisões, e o aparelho de Estado subcentral. O governo é o veículo administrativo que dirige o Estado. O objetivo deste conjunto específico de instituições que são as expressões de autoridade nas sociedades capitalistas (e nos chamados "Estados socialistas") é a manutenção e ampliação da dominação das pessoas comuns por uma classe privilegiada, os ricos nas sociedades capitalistas, e os asshim chamados Partidos Comunistas em sociedades socialistas de Estado ou comunistas como a ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

No entanto, o próprio Estado é sempre uma estrutura de posição elitista entre os governantes e os governados- os que dão ordens e os que obedecem, os que têm tudo e os que não têm nada. A elite do Estado não é apenas os ricos e super-ricos, mas também as pessoas que assumem posições de autoridade do Estado: os políticos e funcionários jurídicos. Assim, a própria burocracia do Estado, em termos de sua relação com a propriedade ideológica, pode se tornar uma classe de elite em seu próprio direito. Esta classe de elite administrativa do Estado é desenvolvida não apenas por meio de distribuição de privilégios por parte da elite econômica, mas também pela separação entre a vida privada e a pública - a unidade da família e da sociedade civil, respectivamente - e pela oposição entre uma família individual e a sociedade em geral. É puro oportunismo, provocado pela concorrência capitalista e alienação. É um terreno fértil para os agentes do Estado.

A existência do Estado e das classes dominantes, com base na exploração e opressão da classe trabalhadora são inseparáveis. Dominação e exploração caminham lado a lado e, de fato, essa opressão não é possível sem força e autoridade violentas. É por isso que os anarco-comunistas argumentam que qualquer tentativa de usar o poder do Estado como um meio de estabelecer uma sociedade igualitária livre só pode ser auto-destrutiva, porque os hábitos de comandar e explorar tornam-se fins em si mesmos. Isto foi provado pelos bolcheviques na Revolução Russa (1917-1921). O fato é que os agentes do Estado "comunista" acumularam o poder político tanto quanto a classe capitalista acumula riqueza econômica. Aqueles que governam formam um grupo distinto, cujo único interesse é a retenção do controle político, por qualquer meio à sua disposição. Mas a instituição da propriedade capitalista, além disso, permite a uma minoria da população controlar e regular o acesso a, e o uso de toda a riqueza socialmente produzida e dos recursos naturais. Você tem que pagar pela a terra, a água e o ar fresco para alguma empresa gigante ou imobiliária.

Este grupo de controle pode ser uma classe econômica distinta ou o próprio Estado mas, em qualquer caso, a instituição da propriedade leva a um conjunto de relações sociais e econômicas, o capitalismo, em que um pequeno setor da sociedade colhe enormes benefícios e privilégios à custa da minoria trabalhadora. A economia capitalista se baseia não em satisfazer as necessidades de todos, mas em acumular lucro para poucos. Tanto o capitalismo quanto o Estado devem ser atacados e derrubados, não um ou o outro, ou um depois do outro, porque a queda de um não assegura a queda dos dois. Abaixo o capitalismo e o Estado!

Sem dúvida, alguns trabalhadores confundem o que eu estou falando com uma ameaça à sua propriedade pessoal acumulada. Não: os anarquistas reconhecem a distinção entre bens pessoais e a grande propriedade capitalista. Propriedade capitalista é a que tem como característica básica e propósito o comando da força de trabalho de outras pessoas por causa de seu valor de troca. A instituição da propriedade condiciona o desenvolvimento de um conjunto de relações sociais e econômicas, que estabeleceram o capitalismo, e esta situação permite que uma pequena minoria dentro da sociedade colha enormes benefícios e privilégios em detrimento da maioria trabalhadora. Este é o cenário clássico do capital explorando o trabalho.

Onde existe uma elevada divisão social do trabalho e organização industrial complexa , o dinheiro é necessário para realizar transações. Não é simplesmente o caso de que esse dinheiro seja moeda com curso legal, e seja usado no lugar de troca direta de mercadorias. Não se limita a isso: Capital é dinheiro, mas o dinheiro como um processo, que reproduz e aumenta o seu valor. O capital surge apenas quando o proprietário dos meios de produção encontra trabalhadores no mercado como vendedores de sua própria força de trabalho. O capitalismo se desenvolveu como a forma de propriedade privada que deslocou-se da propriedade rural agrícola para o estilo urbano de trabalho fabril. O capitalismo centraliza os instrumentos de produção e aproxima as pessoas como força de trabalho disciplinada. O capitalismo é a produção industrializada de mercadorias, que faz os produtos para o lucro, não para as necessidades sociais. Esta é uma distinção especial do capital e só dele.

Podemos entender o capitalismo, com base em nossas observações, como Capital dotado de vontade e consciência. Isto é, como aquelas pessoas que adquirem o capital, e funcionam como uma elite, classe endinheirada com o poder nacional e político suficiente para governar a sociedade. Além disso, que o capital acumulado é dinheiro, e com o dinheiro eles controlam os meios de produção, que são definidos como as usinas, minas, fábricas, terras, água, energia e outros recursos naturais, e os ricos  sabem que estas são a sua propriedade. Eles não precisam de pretensões ideológicas, e não têm nenhuma ilusão sobre "propriedade pública".

Uma economia, como a que nós esboçamos brevemente, não se baseia na satisfação das necessidades de todos na sociedade, mas em vez disso se baseia na acumulação de lucros para poucos, que vivem no luxo palaciano como uma classe ociosa, enquanto os trabalhadores vivem na pobreza ou separados dela por um contracheque. Você vê, portanto, que acabar com o governo também significa a abolição do monopólio e propriedade pessoal dos meios de produção e distribuição.

Princípios Gerais do anarco-comunismo


Já que o anarco-comunismo é a forma mais importante e mais amplamente aceita do anarquismo, algo precisa ser dito sobre esta doutrina revolucionária dinâmica.

O anarco-comunismo é baseado em uma concepção de sociedade que une harmoniosamente o autointeresse individual e o bem-estar social. Embora os anarco-comunistas concordem com Marx e muitos marxistas-leninistas em que o capitalismo deve ser abolido por causa de sua natureza de crises (aqui nós rejeitamos o falso termo "anarquia da produção") e sua exploração da classe trabalhadora, eles não acreditam que o capitalismo é uma condição prévia indispensável, progressiva para a transição para uma economia socialmente benéfica. Nem acreditam que o planejamento econômico centralizado do socialismo de Estado pode prever a ampla diversidade de necessidades ou desejos. Eles rejeitam a ideia da necessidade de um Estado ou que ele só vai "definhar" por sua própria vontade; ou que um partido "comande" os trabalhadores ou "gerencie" a revolução. Em suma, embora aceitando elementos da sua crítica econômica ao capitalismo, eles não adoram Karl Marx como um líder infalível cujas idéias nunca podem ser criticadas ou revistas, como os marxistas-leninistas fazem; e o anarco-comunismo não é baseado na teoria marxista.

Esses anarquistas acreditam que o "pessoal é político, e o político é pessoal",o que significa que não se pode divorciar a vida política da própria vida pessoal. Nós não desempenhamos papéis políticos burocráticos e, em seguida, temos uma vida separada como um outro ser social inteiramente diferente. Os anarco-comunistas reconhecem que as pessoas são capazes de determinar as suas próprias necessidades e de tomar as medidas necessárias para atender a essas necessidades, desde que tenham livre acesso aos recursos sociais. É sempre uma decisão política se esses recursos devem ser fornecidos gratuitamente a todos, então os anarco-comunistas acreditam na crença de "de cada um segundo suas possibilidades, a cada um segundo suas necessidades". Isto assegura que todos serão alimentados, vestidos e alojados como prática social normal, e não como políticas humilhantes de bem-estar social, ou que certas classes serão melhor providas do que outras.

Quando não deformadas por instituições sociais e práticas corruptas, a interdependência e a solidariedade dos seres humanos resultam em indivíduos que são responsáveis ​​tanto por si mesmos como pela sociedade, o que torna possíveis o seu bem-estar e o seu desenvolvimento cultural. Portanto, nós procuramos substituir o Estado e o capitalismo por uma rede de alianças voluntárias que abracem toda a vida social: produção, consumo, saúde, cultura, lazer e outras áreas. Desta forma, todos os grupos e associações colherão os benefícios da unidade, enquanto expandem a gama de sua liberdade. Os anarquistas acreditam na livre associação e na federação de coletivos, conselhos de trabalhadores, cooperativas de habitação e alimentação, coletivos políticos, e de todos os outros tipos.

Como uma questão prática, os anarco-comunistas acreditam que nós devemos começar a construir a nova sociedade, agora, bem como lutar para esmagar a antiga, capitalista. Eles desejam criar organizações de ajuda mútua não-autoritárias (para alimentação, vestuário, habitação, financiamento de projetos comunitários e outros), assembléias de bairros e cooperativas não relacionadas com as empresas, estatais ou privadas, que não funcionem para o lucro, e sim para a necessidade social. Tais organizações, se construídas agora, vão proporcionar aos seus membros uma experiência prática em autogestão e autossuficiência, e vão diminuir a dependência das pessoas em relação às políticas sociais e empregadores. Em suma, podemos começar agora a construir a infraestrutura para a sociedade comunitária, para que as pessoas possam ver pelo que estão lutando, não apenas as idéias na cabeça de alguém. Esse é o verdadeiro caminho para a liberdade.

Pensamento anarquista x marxista-leninista sobre a organização da sociedade


Historicamente, houve três principais formas de socialismo: o socialismo libertário (anarquismo), socialismo autoritário (comunismo marxista), e  o socialismo democrático (socialdemocracia eleitoral). A esquerda não-anarquista tem ecoado o retrato feito pela burguesia do anarquismo como ideologia do caos e da loucura. Mas o anarquismo, e especialmente o anarco-comunismo, não tem nada em comum com esta imagem. Ela é falsa e criada por seus oponentes ideológicos, os marxistas-leninistas.

É muito difícil para os marxistas-leninistas fazer uma crítica objetiva do anarquismo como tal, porque, por natureza, ele nega todos os pressupostos básicos do marxismo. Se o marxismo e do leninismo, a sua variante que surgiu durante a revolução russa, é considerado a filosofia da classe operária, e o proletariado não pode delegar a sua emancipação para ninguém além de si mesmo, é difícil voltar atrás e dizer que a classe trabalhadora ainda não está pronta para dispensar da autoridade sobre ela. Lênin veio com a idéia de um Estado de transição, que iria "definhar" ao longo do tempo, junto com a "ditadura do proletariado" de Marx. Os anarquistas denunciam esta linha como contrarrevolucionária e pura grilagem de poder. Mais de 75 anos de prática marxista-leninista tem mostrado que estamos certos. Esses chamados "Estados socialistas", produzidos pela doutrina marxista-leninista têm produzido apenas Estados policiais stalinistas, onde os trabalhadores não têm direitos, uma nova classe dominante de tecnocratas e políticos do partido surgiu, e a diferença de classe entre os favorecidos pelo Estado e os não-favorecidos criou privação generalizada entre as massas e outra luta de classes. Mas, em vez de responder claramente a tais críticas, eles concentram seus ataques não sobre a doutrina do anarquismo, mas em determinadas figuras históricas anarquistas, em especial Bakunin, um adversário ideológico de Marx na Primeira Internacional dos movimentos socialistas no século passado.

|Os anarquistas são revolucionários sociais, que procuram uma federaçãocooperativa de comunas descentralizadas, voluntária, sem classes e sem Estado, baseada na propriedade social, na liberdade individual e na autogestão autônoma da vida social e econômica.

Os anarquistas diferem dos Marxistas-Leninistas em muitas áreas, mas especialmente na construção da organização. Eles diferem dos socialistas autoritários em basicamente três pontos: eles rejeitam as noções marxistas-leninistas do "partido de vanguarda", "centralismo democrático", e "ditadura do proletariado", e os anarquistas têm alternativas para cada um deles. O problema é que quase toda a esquerda, inclusive alguns anarquistas, é completamente inconsciente de alternativas estruturais tangíveis do anarquismo, o Grupo Catalisador, o Consenso Anarquista, e a Comuna de Massas.

A alternativa anarquista ao partido de vanguarda é o grupo catalisador. O grupo catalisador é meramente uma federação anarquista-comunista de grupos de afinidade em ação. Este grupo catalisador ou federação revolucionária anarquista se reunirá em uma base regular ou somente quando houver necessidade, dependendo dos desejos da militância e da urgência das condições sociais. Ele seria composto por representantes dos grupos de afinidade ou os próprios grupo de afinidade, com plenos direitos de voto, direitos e responsabilidades. Ele iria definir tanto as políticas como as ações futuras a serem realizadas. Ele iria produzir tanto a teoria anarquista-comunista como a prática social. Ele acredita na luta de classes e na necessidade de derrubar o governo capitalista. Ele se organiza nas comunidades e locais de trabalho. É democrático e não tem figuras de autoridade como um chefe do partido ou comitê central.

A fim de fazer um grande escala revolução, movimentos coordenados são necessários, e a sua formação, de modo algum, é contrária ao anarquismo. O que os anarquistas são contra é uma direção hierárquica com sede de poder que suprima o impulso criativo da maior parte dos envolvidos, e force uma agenda goela abaixo. Os membros de tais grupos são meros servos e adoradores da direção do partido. Mas, embora os anarquistas rejeitem este tipo de direção dominadora, eles reconhecem que algumas pessoas são mais experientes, articuladas, ou qualificadas do que outras, e que essas pessoas vão desempenhar papéis de direção. Estas pessoas não são figuras de autoridade, e podem ser removidas por decisão dos militantes. Há também uma tentativa consciente de rodiziar rotineiramente essa responsabilidade, e transmitir essas habilidades para os outros, especialmente para as mulheres e pessoas não-brancas, que normalmente não teriam a chance. As experiências dessas pessoas, que são geralmente ativistas veteranos ou melhor qualificados do que a maioria no momento, podem ajudar a formar e avançar os movimentos,e até mesmo ajudar a cristalizar o potencial de mudança revolucionária no movimento popular. O que elas não podem fazer é assumir a iniciativa do próprio movimento. Os membros desses grupos rejeitam posições hierárquicas - pessoas com mais autoridade "oficial" do que outros - e, ao contrário dos partidos M-L de vanguarda, os grupos anarquistas não se permitirão perpetuar a sua direção através de uma ditadura após a revolução.

Em vez disso, o próprio grupo catalisador será dissolvido e os seus membros, quando estiverem prontos, serão absorvidos pelo processo de tomada de decisão coletiva da nova sociedade. Portanto, esses anarquistas não são líderes, mas apenas conselheiros e organizadores de um movimento de massas.
O que não queremos nem precisamos é de um grupo de líderes autoritários da classe trabalhadora, e, em seguida, estabelecendo-se como um comando centralizado de tomada de decisões, em vez de "definhar"; os Estados marxistas-leninistas têm perpetuado as instituições autoritárias (a polícia secreta, chefes de trabalho, e o partido comunista) para manter seu poder. A aparente eficácia de tais organizações ("nós somos tão eficientes quanto os capitalistas") mascara a maneira com que os "revolucionários" se modelam pelas instituições capitalistas ficam absorvidos por valores burgueses, e completamente isolados das reais necessidades e desejos das pessoas comuns .

A relutância dos marxistas-leninistas a aceitar a mudança social revolucionária é, no entanto, acima de tudo, vista na concepção do partido de Lênin. É uma receita abertamente para tomar o poder e colocá-lo nas mãos do Partido Comunista. O partido que os leninistas criam hoje, eles acreditam, deve se tornar o (único) "Partido do Proletariado", no qual a classe pode se organizar e tomar o poder. Na prática, porém, isso significava ditadura pessoal e do partido, que se sentia com o direito e o dever de acabar com todos os outros partidos e ideologias políticas. Tanto Lênin como Stálin mataram milhões de operários e camponeses, seus adversários ideológicos de esquerda, e até mesmo membros do partido bolchevique. É por causa desta história sangrenta e traiçoeiro que existe hoje tanta rivalidade e hostilidade entre partidos marxista-leninistas e trotskista, e é por isso que os "Estados operários", seja em Cuba, China, Vietnã ou Coréia são essas burocracias opressivas sobre o seu povo. É também por isso que a maioria dos países stalinistas do Leste Europeu teve seu governo derrubado pela pequena burguesia e cidadãos comuns na década de 1980. Talvez estejamos assisntindo ao eclipse total do comunismo de Estado, uma vez que eles não têm nada de novo para dizer e nunca vão ter esses governos de volta.

Enquanto os grupos anarquistas chegam a decisões por consenso anarquista, os marxista-leninistas se organizam através do chamado centralismo democrático. O centralismo democrático se apresenta como uma forma de democracia interna do partido, mas é realmente apenas uma hierarquia, em que cada membro de um partido - e, em última análise, de uma sociedade - é subordinado a um membro "superior" até alcançar o todo-poderoso Comitê Central do Partido e seu Presidente. Este é um procedimento totalmente antidemocrático, que coloca a direção acima de qualquer crítica, mesmo que ela não esteja acima de qualquer crítica. É um método falido e corrupto de funcionamento interno de uma organização política. Você não tem voz em tal partido, e deve ter medo de dizer qualquer comentário depreciativo para ou sobre os líderes.

Em grupos anarquistas, as propostas são feitas pelos membros (nenhum dos quais tem autoridade sobre outros), as minorias dissidentes são respeitadas, e a participação de cada indivíduo é voluntária. Todo mundo tem o direito de concordar ou discordar com a política e as ações, e as idéias de todos recebem o mesmo peso e consideração. Nenhuma decisão pode ser tomada até que cada membro individual ou grupo afiliado que será afetado por essa decisão tenha tido a oportunidade de expressar sua opinião sobre o assunto. Os membros individuais e grupos afiliados devem conservar a possibilidade de recusar o apoio a atividades específicas da federação, mas não podem impedir ativamente essas atividades. De uma forma verdadeiramente democrática, as decisões para a federação como um todo devem ser feita pela maioria dos seus membros.

Na maioria dos casos, não há nenhuma necessidade real de reuniões formais para a tomada de decisões, o que é necessária é a coordenação das ações do grupo. Claro, há momentos em que uma decisão tem que ser tomada, e às vezes muito rapidamente. É raro, mas às vezes é inevitável. O consenso, nesse caso, teria de ser entre um círculo muito menor do que a maioria da militância de centenas ou milhares. Mas, normalmente, tudo que é necessário é uma troca de informações e confiança entre as partes, e uma decisão reafirmando a decisão original será alcançada, se uma decisão de emergência tiver que ser tomada. É claro que, durante a discussão, haverá um esforço para esclarecer quaisquer grandes diferenças e explorar cursos de ação alternativos. E haverá uma tentativa de chegar a um acordo mútuo de consenso entre visões conflitantes. Como sempre, se houver um impasse ou insatisfação com o consenso, a votação será tomada e com uma maioria de 2/3, a proposta seria aceita, rejeitada ou suprimida.

Isso é totalmente contrário à prática dos partidos marxistas-leninistas, onde o Comitê Central define unilateralmente a política para toda a organização, e reina a autoridade arbitrária. Os anarquistas rejeitam a centralização da autoridade e o conceito de um Comitê Central. Todos os grupos são associações livres formados fora dos comitês, e não revolucionários disciplinados pelo medo da autoridade. Quando o tamanho dos grupos de trabalho (por exemplo, sindical, finanças, antirracismo, direitos das mulheres, comida e moradia etc.) torna-se complicado, as organizações podem ser descentralizadas em duas ou mais organizações autônomas, ainda unidas em uma grande federação. Isso permite que o grupo a se expanda sem limites, mantendo sua forma anárquica de autogestão descentralizada. É parecido com a teoria científica de uma célula biológica, dividindo e se redividindo, mas em um sentido político.

No entanto, os grupos anarquistas não são necessariamente organizados frouxamente, o anarquismo é flexível e a estrutura pode ser praticamente inexistente ou muito rígida, dependendo do tipo de organização exigido pelas condições sociais enfrentadas. Por exemplo, a organização seria mais rígida durante operações militares ou repressão política intensificada.

Os anarco-comunistas rejeitam o conceito marxista-leninista de "ditadura do proletariado" e o chamado "Estado operário", em favor da comuna de massas. Ao contrário dos membros de partidos leninistas, cujas vidas diárias são geralmente semelhantes aos estilos de vida burgueses, as estruturas organizacionais e estilos de vida anarquistas, através de arranjos comunitários de vida, tribos urbanas, grupos de afinidade, squatts etc., tentam refletir a sociedade liberada do futuro. Os anarquistas construíram todos os tipos de comunas e coletivos durante a Revolução Espanhola dos anos 1930, mas foram esmagados pelos fascistas e os comunistas. Uma vez que os marxistas-leninistas não constroem estruturas cooperativas, o núcleo da nova sociedade, eles só podem ver o mundo em termos políticos burgueses. Eles querem apenas tomar o poder do Estado e instituir a sua própria ditadura sobre o povo e os trabalhadores, em vez de esmagar o poder do Estado e sibstituí-lo por uma sociedade cooperativa livre.

Claro, o partido, insistem, representa o proletariado, e não há necessidade de eles se organizarem fora do partido. No entanto, mesmo na antiga União Soviética, os membros do Partido Comunista só representavam cinco por cento da população. Isso é elitismo da pior espécie e até mesmo faz com que os partidos capitalistas pareçam democráticos, por comparação. O que o Partido Comunista tinha intenção de representar em termos de poder operário nunca foi claro, mas na verdade, no melhor estilo de "duplipensar" a la 1984, os resultados são 75 anos de repressão política e escravidão de Estado, em vez de uma era de "regime comunista glorioso" . Eles devem ser responsabilizados politicamente por esses crimes contra o povo, e a teoria política revolucionária e prática. Eles têm difamado os nomes do socialismo e do comunismo.

Nós rechaçamos a ditadura do proletariado. É opressão desenfreada, e os marxistas-leninistas e stalinistas devem ter que responder por isso. Milhões foram assassinados por Stálin em nome da luta de classes interna, e milhões mais foram assassinados na China, Polônia, Afeganistão, Camboja e outros países, por movimentos comunistas que se seguiram prescrição de Stálin sobre o terror revolucionário. Nós rejeitamos o comunismo de Estado como a pior aberração e tirania. Nós podemos fazer melhor do que isso com a comuna de massas.

A comuna anarquista de massas (às vezes também chamado de Conselho Operário, embora existam algumas diferenças) é uma federação continental ou transnacional de cooperativas econômicas e políticas e formações comunais regionais. Os anarquistas procuram criar um mundo e uma sociedade em que a tomada de decisão real envolva todos os que vivem nele - uma comuna de massas - e não poucos malucos disciplinados que puxam as cordas em uma chamada "ditadura do proletariado". Toda e qualquer ditadura é ruim, não tem aspectos sociais positivos, mas isso é o que os leninistas nos dizem que nos protegerá da contrarrevolução. Enquanto os marxistas-leninistas afirmam que esta ditadura é necessária a fim de esmagar as contrarrevoluções reacionárias de direita dirigidas pela classe burguesa, os anarquistas acham que isso é, em si, parte da escola stalinista de falsificação. Um aparelho centralizado, como um Estado, é um alvo muito mais fácil para os opositores da revolução do que uma matriz de comunas descentralizadas. E essas comunas permaneceriam armadas e preparadas para defender a revolução contra qualquer um que se movesse militarmente contra ela. A chave é mobilizar as pessoas em guardas de defesa, milícias e outras unidades de preparação militar.

Esta posição dos leninistas sobre a necessidade de uma ditadura para proteger a revolução não foi comprovada na Guerra Civil que se seguiu à Revolução Russa: na verdade, sem o apoio dos anarquistas e outras forças de esquerda, junto com o povo russo, o governo bolchevique teria sido derrotado. E, em seguida, como para qualquer ditadura, ele se virou e eliminou os movimentos anarquistas russos e ucranianos, juntamente com os seus adversários de esquerda, como os mencheviques e socialistas-revolucionários. Mesmo osoponentes ideológicos dentro do partido bolchevique foram presos e condenados à morte. Lênin e Trotsky mataram milhões de cidadãos russos logo após a Guerra Civil, quando foram consolidando o poder do Estado, que precedeu o domínio sangrento de Stalin. A lição é que não devemos ser enganados e entregar o poder popular de base para ditadores que se colocam como nossos amigos ou líderes.

Nós não precisamos das soluções marxistas-leninistas, elas são perigosas e ilusórias. Existe outro caminho mas, para grande parte da esquerda e muitas pessoas comuns, a escolha parece ser entre o "caos" anarquista ou os partidos "comunistas" maoístas, dogmáticos e ditatoriais. Isso é principalmente o resultado de mal-entendidos e propaganda. Mas o anarquismo como ideologia fornece estruturas organizacionais viáveis, bem como teoria revolucionária alternativa válida que, se utilizada, poderia ser a base para organização tão sólida como a marxista-leninista (ou até mais). Só estas organizações serão igualitárias e realmente para o benefício do povo, em vez dos líderes comunistas.

O anarquismo não se limita às idéias de um único teórico, e permite que a criatividade individual se desenvolva em grupos coletivos, em vez do dogmatismo característico dos marxistas-leninistas. Portanto, não sendo sectário, incentiva uma grande dose de inovação e experimentação, o que levou seus seguidores a responder de forma realista às condições contemporâneas. É o conceito de fazer a ideologia se adequar às exigências da vida, ao invés de tentar fazer a vida se adequar às exigências da ideologia.

Portanto,os anarquistas constroem organizações a fim de construir um novo mundo, e não para perpetuar a nossa dominação sobre as massas populares. Tentamos construir um movimento internacional organizado, coordenado e destinado a transformar o mundo em uma comuna de massas. Tal seria realmente um grande salto na evolução humana e um passo revolucionário gigantesco. Ele iria mudar o mundo como nós o conhecemos e acabar com os problemas especiais que há muito assolam a humanidade. Seria uma nova era de liberdade e realização.

VAMOS EM FRENTE, TEMOS UM MUNDO A GANHAR!

Tipos de Anarquistas


Mas não se pode esperar que os anarquistas concordem em tudo. Historicamente, essas diferenças têm levado a tendências distintas na teoria e prática anarquista.

Os anarquistas individualistas esperam uma sociedade futura em que os indivíduos sejam livres para fazer o seu dever e compartilhar recursos "de acordo com os ditames da justiça abstrata". De um modo geral, os individualistas são meros filósofos, ao invés de ativistas revolucionários. Eles são defensores das liberdades civis, que querem reformar o sistema para que ele funcione "bem". Eles foram predominantes no século XIX, mas ainda são vistos em formações "contraculturais" anarquistas, filósofos classe média, ou libertários de direita.

Os mutualistas são anarquistas associados com as idéias do filósofo anarquista do século XIX, Pierre-Joseph Proudhon, que baseou a sua economia futura em "um padrão de indivíduos e pequenos grupos que possuem (mas não são proprietários) seus meios de produção, e ligados por contratos de troca mútua e crédito mútuo (em vez de dinheiro), que assegurariam a cada indivíduo o produto de seu trabalho." Este tipo de anarquismo aparece quando individualistas tentam colocar as suas idéias em prática, e apenas desejam reformar o capitalismo e torná-lo "cooperativo". É também aí onde os libertários de direita e os defensores de um papel minimizado para o Estado obtém as suas idéias. Marx atacou Proudhon como um "idealista" e "filósofo utópico" por causa do conceito anarquista de Apoio Mútuo.

Os coletivistas são anarquistas baseados diretamente nas idéias de Mikhail Bakunin, o anarquista russo, o defensor mais conhecido para o público em geral da teoria anarquista. A forma coletivista de anarquismo de Bakunin substituiu a  insistência de Proudhon na posse individual pela ideia de possessão socialista por instituições voluntárias, bem como o direito ao usufruto do produto individual de sua/seu trabalho ou seu equivalente assegurado ao trabalhador individual. Este tipo de anarquismo envolve uma ameaça direta para o sistema de classes e o Estado capitalista, e é a visão de que a sociedade só pode ser reconstruída quando a classe trabalhadora tomar o controle da economia por uma revolução social, destruir o aparelho de Estado, e reorganizar a produção em base à propriedade e controlo comuns, pelas associações de trabalhadores. Esta forma de anarquismo é ideologicamente a base do anarcossindicalismo ou sindicalismo revolucionário.

Os anarcossindicalistas são anarquistas que atuam nos movimentos operários e sindicais.

Anarcossindicalismo é uma forma de anarquismo para os trabalhadores e camponeses com consciência de classe, para os militantes e ativistas do movimento operário, para socialistas libertários que querem igualdade, bem como liberdade. Como apontado, essa filosofia se baseia fortemente nas idéias de Bakunin, embora as suas técnicas de organização derivem dos movimentos sindicais franceses e da CNT espanhola, onde os anarquistas estavam fortemente envolvidos. Este é o tipo de anarquismo que influenciou a IWW na América do Norte, e que expressa a visão de que o Estado capitalista deve ser derrubado por uma forma revolucionária de guerra econômica chamada de greve geral, e que a economia deve ser reorganizada com base em sindicatos industriais, que estariam sob o conselho da classe trabalhadora. Todos os assuntos políticos seriam tratado por Congresso da União Industrial, enquanto assuntos de trabalho seriam por um comitê de fábrica, eleitos pelos próprios trabalhadores e sob seu controle direto. Este tipo de anarquismo tem um grande potencial para organizar um movimento anarquista da classe trabalhadora na América do Norte, se levantar questões contemporâneas, como a redução da jornada de trabalho, conselhos de fábrica, a depressão atual e uma luta contra a ofensiva patronal dos últimos 20 anos contra a classe operária mundial.

Os anarco-comunistas são anarquistas revolucionários que acreditam na filosofia da luta de classes, no fim do capitalismo, e de todas as formas de opressão. Ao contrário do anarcossindicalismo, não se limitam à organização por local de trabalho. A filosofia é baseada nas teorias de Peter Kropotkin, outro anarquista russo. Kropotkin e seus companheiro anarquista-comunistas não só previram a comuna e os conselhos operários como os guardiães adequados da produção; eles também atacaram o sistema salarial em todas as suas formas, e reviveram as idéias do comunismo libertário. Este tipo de anarquismo também é conhecido como socialismo libertário, e inclui a maioria dos socialistas que também se opõem ao Estado, à ditadura, e ao domínio do partido, mas que não são anarquistas.

Desde a década de 1870, os princípios do comunismo anarquista foram aceitos pela maioria das organizações anarquistas que defendem a revolução. Este comunismo anarquista ou libertário não deve, é claro, ser confundido com o comunismo muito mais conhecido dos marxistas-leninistas, o comunismo que é baseado na propriedade estatal da economia e no controle estatal da produção e distribuição, e também na ditadura do partido. Essa forma de sociedade comunista autoritária é baseada na opressão e escravidão ao Estado, enquanto nós defendemos um comunismo livre e voluntário de recursos compartilhados. Comunismo libertário não é bolchevismo e não tem nenhuma ligação com ou apoio a Lênin, Stálin, Trotsky ou Mao Tsé-Tung. Não buscamos controle estatal ou privado sobre o essencial da vida, e nos opomos a todas as formas de ditadura. Os anarco-comunistas buscam fomentar o crescimento de uma nova sociedade na qual a liberdade de cada um se desenvolver seja integrada em toda a extensão com a responsabilidade social para com os outros.

Os autonomistas são uma nova tendência no movimento anarquista. Esta tendência surgiu em meados dos anos 1980 na Alemanha, e depois se espalhou para outros países da Europa e América do Norte. Os estudantes, intelectuais e trabalhadores descontentes criaram essa tendência originalmente, mas também existem anarquistas que se chamam autonomistas para dizer que eles não são ligados a uma federação, ou não são doutrinários ou puristas. Como o socialismo libertário, eles parecem basear a sua ideologia tanto no marxismo como em alguns princípios da filosofia anarquista como o anarco-comunismo, mas eles tendem a ser mais independentes e muito meticulosos quando explicam a sua identidade diferente.

Em conclusão, esta é uma maneira de listar as diversas tendências do pensamento e prática anarquistas. Pode haver muitas outras maneiras de fazer isso, e descrever o desenvolvimento histórico de cada tendência. Isso pode estar além do escopo deste panfleto. Mas a maioria dos anarquistas concordariam sobre essas declarações gerais: os anarquistas esperam, constrem teorias sobre, e agem para promover a abolição do governo, do Estado, e do princípio de autoridade, que é central nas formas sociais contemporâneas, e substituí-los por uma organização social baseada na cooperação voluntária entre indivíduos livres. Todas as tendências anarquistas - exceto os individualistas e, em certa medida, os mutualistas - veem esta sociedade futura baseada uma rede orgânica de associações de apoio mútuo, coletivos de trabalhadores e consumidores, e outras alianças voluntárias, organizadas em unidades regionais e outras federações não-autoritárias com o propósito de partilhar ideias, informações, competências técnicas e recursos tecnológicos, culturais e recreativos em grande escala. Todos os anarquistas acreditam no fim da fome e da carência e  são contra todas as formas de opressão de classe, sexual e racial, assim como toda a manipulação política por parte do Estado.

A filosofia é um ideal em evolução, em que muitos indivíduos e movimentos sociais têm influência. Feminismo, Libertação Negra, direitos dos homossexuais, o movimento ecológico e outras, todos são adições à consciência da filosofia do anarquismo, e esta influência tem ajudado no avanço do ideal do anarquismo como uma força social na sociedade moderna. Estas influências garantir que a revolução social que todos nós antecipamos será tão abrangente e democrática quanto possível, e que todos serão totalmente libertados, não somente os homens brancos ricos e heterossexuais.

Teoria e Prática Anarquistas


O principal objetivo deste capítulo é listar os principais elementos do pensamento anarquista e dar exemplos do que alguns anarquistas pensam sobre eles. Ao contrário de outras correntes de pensamento político, os anarquistas não elevam certos textos ou indivíduos acima de outros. Existem diferentes tipos de anarquistas com muitos pontos de desacordo. As principais áreas de debate entre os anarquistas se relacionam com que forma de organização deve ser utilizada e quais as tácticas que devemos usar. Por exemplo, algumas de suas diferenças mais significativas dizem respeito à organização econômica da sociedade futura. Alguns anarquistas rejeitam o dinheiro, e o substituir por um sistema de comércio em que o trabalho é trocado por bens e serviços. Outros rejeitam todas as formas de comércio ou a troca ou a propriedade privada, assim como o capitalismo, e sentem que toda grande propriedade deve ser  propriedade em comum.

Existem anarquistas que acreditam em guerra de guerrilhas - incluindo assassinatos, atentados, expropriações de bancos, etc. - como um meio de ataques revolucionários sobre o Estado. Mas também existem anarquistas que acreditam quase que exclusivamente em trabalho organizativo sindical ou comunitário. Não há nenhum tipo único, nem todos concordam sobre estratégia e táticas. Alguns se opõem à violência; alguns a aceitam apenas em legítima defesa ou durante uma insurreição revolucionária.

Os anarquistas e o anarquismo têm sido historicamente deturpados para o mundo. A impressão popular de um anarquista como uma pessoa incontrolavelmente emocional, violenta, que só está interessada na destruição como um fim em si mesma, e que se opõe a todas as formas de organização, ainda persiste até hoje. Além disso, a crença equivocada de que a anarquia é caos e confusão, um reinado de estupro, assassinato e desordem estúpido e total insanidade, é amplamente aceita pelo público em geral.

Esta falsa impressão principalmente ainda é amplamente aceita, porque as pessoas de todo o espectro político conscientemente têm vindo a promover essa mentira por anos. Todos os que se esforçam para oprimir e explorar a classe operária, e ganhar o poder, sejam da direita ou da esquerda, estarão sempre ameaçados pelo anarquismo. Isso ocorre porque os anarquistas defendem que toda a autoridade e coerção devem ser combatidas. Na verdade, os anarquistas querem se livrar do maior perpetrador de violência ao longo da história: os governos. Para os anarquistas, um governo capitalista "democrático" não é melhor que um regime fascista ou comunista, porque a classe dominante apenas difere na quantidade de violência que autoriza a sua polícia e  exército a usar, e o grau de direitos que lhes permitirá, se houver. Por meio da guerra, repressão policial, negligência social e repressão política, os governos mataram milhões de pessoas, seja tentando se defender ou derrubar outro governo. Os anarquistas querem acabar com este massacre, e construir uma sociedade baseada na paz e liberdade.


O que é anarquismo? O anarquismo é o socialismo libertário ou livre. Os anarquistas se opõem ao governo, ao estado e ao capitalismo. Portanto, simplesmente falando, o anarquismo é uma forma não-governamental de socialismo.

Em comum com todos os socialistas, os anarquistas defendem que a propriedade privada da terra, do capital e das máquinas teve o seu tempo; que ela está condenada a desaparecer, e que todos os requisitos para a produção devem se tornar propriedade comum da sociedade, e ser geridos em conjunto pelos produtores de riqueza. Peter Kropotkin, em Comunismo Anarquista: sua base e princípios.

Apesar de existirem várias diferentes "escolas" anarquistas, os anarquistas revolucionários ou anarco-comunistas se baseiam na luta de classes, mas não tem uma visão mecanicista da luta de classes como os marxistas-leninistas. Por exemplo, não consideram que só o proletariado industrial pode alcançar o socialismo, e que a vitória desta classe, liderada por um "partido operário comunista" representa a vitória final sobre o capitalismo. Nem aceitamos a idéia de um "Estado operário". Os anarquistas acreditam que somente os camponeses, trabalhadores e agricultores podem libertar-se e que eles devem gerenciar a produção industrial e econômica por meio de conselhos de trabalhadores, comitês de fábrica e cooperativas agrícolas, em vez da interferência de um partido ou do governo.

Anarquistas são revolucionários sociais, e sentem que a revolução social é o processo através do qual uma sociedade livre será criada. A autogestão será estabelecida em todas as áreas da vida social, incluindo o direito de todas as raças oprimidas do povo à autodeterminação. Como já afirmei, a autodeterminação é o direito de autogoverno. Por sua própria iniciativa, as pessoas vão implementar a sua própria gestão da vida social através de associações voluntárias. Eles se recusarão a entregar sua autodireção ao Estado, partidos políticos ou seitas de vanguarda, já que cada um desses meramente ajuda no estabelecimento ou restabelecimento da dominação. Os anarquistas acreditam que o Estado e a autoridade capitalista serão abolidos por meio da ação direta: greves selvagens, operações-tartaruga, boicotes, sabotagem e insurreição armada. Nós reconhecemos que os nossos objetivos não podem ser separados dos meios utilizados para alcançá-los. Então, a nossa prática e as associações que criamos irão refletir a sociedade que buscamos.

Deverá necessariamente se dar atenção crucial para a área de organização econômica, uma vez que é aqui que os interesses de todos convergem. No capitalismo, todos nós temos que vender o nosso trabalho para sobreviver e alimentar nossas famílias e nós mesmos. Mas depois de uma revolução social anarquista, o sistema salarial e a instituição da propriedade privada e do Estado serão abolidos e substituídos pela produção e distribuição de bens, de acordo com o princípio comunista de: "De cada um de acordo com a capacidade, a cada um de acordo com a necessidade." Associações voluntárias de produtores e consumidores tomarão posse comum dos meios de produção e permitirão a livre utilização de todos os recursos a qualquer grupo voluntário, desde que tal uso não prive os outros ou não implique o uso de trabalho assalariado. Essas associações podem ser cooperativas de alimentação e de habitação, fábricas cooperativas, escolas comunitárias, hospitais, instalações de lazer e outros serviços sociais importantes. Estas associações vão se federar entre si para facilitar os seus objetivos comuns, sobre bases tanto territoriais como funcionais.

Esse federalismo como conceito é uma forma de organização social em que os grupos autodeterminados entram em acordo livremente para coordenar as suas atividades. O único sistema social que pode, eventualmente, atender às diversas necessidades da sociedade e, ao mesmo tempo, promover a solidariedade na escala mais ampla, é aquele que permite que as pessoas se associem livremente com base em necessidades e interesses comuns. O federalismo enfatiza a autonomia e a descentralização, promove a solidariedade e complementa os esforços dos grupos para serem tão autossuficientes quanto possível. Pode-se, portanto, esperar que os grupos cooperem, porque para eles significa benefício mútuo. Contrariamente ao sistema legal capitalista e seus contratos, se esses benefícios não são vistos como mútuos, em uma sociedade anarquista, qualquer grupo terá a liberdade de dissociar. Desta maneira, um organismo social flexível e autorregulado será criado, sempre pronto para atender a novas necessidades de novas organizações e a ajustes. O federalismo não é um tipo de anarquismo, e sim uma parte essencial do anarquismo. É a união de grupos e povos para a sobrevivência política e econômica e subsistência.

Os anarquistas têm um trabalho enorme pela frente, e eles devem ser capazes de trabalhar juntos para o benefício da idéia. O anarquista italiano Errico Malatesta disse bem quando escreveu:

"Nossa tarefa é a de empurrar o"povo" a exigir e para aproveitar toda a liberdade possível para se tornar responsável por suas próprias necessidades, sem esperar por ordens de qualquer tipo de autoridade. A nossa tarefa é a de demonstrar a inutilidade e nocividade dos o governo, ou provocar e incentivar pela propaganda e ação todos os tipos de iniciativas individuais e colectivas ... Depois da revolução, os anarquistas terão a missão especial de ser os guardiões vigilantes da liberdade, contra os aspirantes ao poder e a possível tirania da maioria ..."
Citado em Malatesta: Sua Vida e Época, editado por Vernon Richards

Então, este é o trabalho da federação, mas não termina com o sucesso da revolução. Há muito trabalho de reconstrução a ser feito, e a revolução deve ser defendida para cumprir nossas tarefas, os anarquistas devem ter suas próprias organizações. Eles devem organizar a sociedade pós-revolucionária, e é por isso que os anarquistas se federam.

Em uma sociedade moderna independente, o processo de federação deve ser estendido a toda a humanidade. A rede de associações voluntárias - a Comuna - não vai conhecer fronteiras. Poderia ser do tamanho da cidade, estado ou nação ou uma sociedade muito maior do que o Estado-nação sob o capitalismo. Poderia ser uma comuna de massas que englobaria todos os povos do mundo em uma série de federações anarquistas continentais, por exemplo América do Norte, África, ou Caribe. Seria realmente um mundo novo! Não é Nações Unidas ou um "governo mundial", e sim uma humanidade unida.

Mas a nossa oposição é formidável - cada um de nós foi ensinado a acreditar na necessidade do governo, na absoluta necessidade de especialistas, em receber ordens, em posições de autoridade - para alguns de nós é tudo novo. Mas,  quando acreditarmos em nós mesmos e decidirmos que nós podemos criar uma sociedade baseada em indivíduos livres e que se importam, aquela tendência dentro de nós vai se tornar a escolha consciente das pessoas amantes da liberdade. Os anarquistas veem seu trabalho como sendo o reforço dessa tendência, e mostram que não existe democracia ou liberdade sob o governo - seja nos Estados Unidos, na China ou na Rússia. Os anarquistas acreditam na democracia direta pelo povo como o único tipo de liberdade e autonomia.

Insurreição


Mas o que é uma rebelião e em que ela difere de uma insurreição? Uma insurreição é uma sublevação geral contra a estrutura de poder. É geralmente uma rebelião sustentada ao longo de dias, semanas, meses ou mesmo anos. É um tipo de guerra de classes que envolve toda uma população em um ato de resistência armada ou semiarmada. Às vezes erroneamente chamada de rebelião, seu caráter é muito mais combativo e revolucionário. Rebeliões são quase totalmente espontâneas, assuntos de curto prazo. Uma insurreição também não é a revolução, já que a revolução é um processo social, e não um único evento, mas pode ser uma parte importante da revolução, talvez a sua fase final. Uma insurreição é uma campanha de protesto violento planejado que leva a revolta espontânea das massas para um nível superior. Os revolucionários intervem para levar rebeliões à fase insurrecional, e a insurreição a uma revolução social. Não são grupos pequenas e isolados de guerrilheiros urbanos que fazem as ações, a menos que esses guerrilheiros façam parte de uma revolta maior.

A importância de reconhecer as verdadeiras diferenças de cada nível podem definir a nossa estratégia e tática nessa fase, e não nos levar prematuramente a uma ofensiva completa quando o inimigo ainda não está enfraquecido o bastante por ações de massa ou ataques políticos. A importância de também reconhecer as verdadeiras causas da revolta não pode ser subestimada. Os revolucionários anarquistas intervem em tais lutas para mostrar às pessoas como resistir e as possibilidades de ganhar a liberdade. Queremos dirigir as rebeliões do povo contra o Estado e usá-las para enfraquecer o domínio do capital. Queremos criar resistência em um prazo mais longo e criar zonas liberadas.Desconectar estas comunidades do Estado significa que essas rebeliões assumirão um caráter político consciente, como a Intifada palestina nos territórios ocupados por Israel no Oriente Médio. Criar a possibilidade de uma insurreição negra significa popularizar e difundir as várias rebeliões para outras cidades, estados e até países, e aumentá-las em número e frequência. Significa, também, conscientemente anular o poder do Estado, em vez de revoltas temporárias contra ele que acabam por preservar seu poder. Deve haver uma tentativa deliberada de acabar com o governo, e estabelecer o Poder Popular. Isso ainda não aconteceu nas várias revoltas negras que temos visto desde 1964, quando a primeira revolta moderna entrou em erupção em Harlem, Nova Iorque.

Na década de 1960, as comunidades negras em todos os EUA levantaram-se furiosamente em rebeliões de massa contra o Estado, exigindo justiça racial. Após a revolta no Harlem, nos próximos quatro anos, as principais rebeliões que balançaram os EUA foram em Watts, Los Angeles, Detroit, Chicago, e centenas de outras cidades norte-americanas. Atos isolados de brutalidade policial, a discriminação racial, habitações precárias, exploração econômica, "elementos marginais", o colapso dos "valores familiares", e uma série de outras "explicações" foram apresentadas pelo sociólogos liberais e conservadores, e outros encomendados pelo Estado para encobrir as verdadeiras causas. No entanto, nenhum deles as revelou como um protesto contra o sistema capitalista e a dominação colonial, mesmo que os cientistas sociais tenham "alertado" sobre a possibilidade de um novo surto de violência.

Mais uma vez, na primavera de 1992, vimos uma revolta maciça em Los Angeles, cujas causas imediatas foram relacionados com a absolvição ultrajante de policiais de Los Angeles que tinham brutalmente espancado Rodney King. Mas,novamente, esta foi apenas a gota dágua que entorna o balde; esta revolta não foi uma revolta apenas em solidariedade com Rodney King pessoalmente. A causa dessa rebelião foi a desigualdade social generalizada no sistema capitalista e o terrorismo da polícia. Desta vez, a rebelião se espalhou para 40 cidades e quatro países estrangeiros. E não foi apenas um chamada "distúrbio racial", mas sim uma revolta de classe que incluiu um grande número de latinos, brancos e até mesmo asiáticos. Mas foi, inegavelmente, uma revolta contra a injustiça racial em primeiro lugar, mesmo que não fosse apenas dirigida contra os brancos em geral, mas sim contra o sistema capitalista e os ricos. Não foi limitada apenas à periferia da área de Los Angeles, mas se espalhou até as áreas de classe alta de Hollywood, Ventura e além. Esta foi a fase inicial da luta de classes.

Se uma força militar clandestina existisse ou uma milícia fosse montada, ele poderia ter entrado no campo da batalha com mais armas e táticas avançadas. Foram as gangues que desempenharam esse papel, e muito bem. É por causa da sua participação que levou tanto tempo para derrotar a rebelião, mas mesmo elas não poderiam impedir o restabelecimento do poder branco em South Central Los Angeles. Não apenas por serem superadas militarmente, mas também porque elas não tinham nenhum programa político revolucionário, apesar de toda sua retórica ter sido radicalizada. Além disso, o estado foi extremamente duro com os rebeldes. Mais de 20.000 pessoas foram presas, 50 foram mortas e centenas feridas.

Poderia ter sido possível criar uma zona liberada, de modo que o poder dual fosse estabelecido? Essa possibilidade existia e ainda existe, se as pessoas forem devidamente armadas, e uma resistência armada de massas bem treinada poderia ter conquistado grandes concessões, uma das quais seria fazer a polícia recuar. Mas não sabemos, isso é pura especulação. O que sabemos é que esta não é a última rebelião em Los Angeles e outras cidades. Elas podem vir muito mais rápido, agora que o gênio da revolução urbana está fora da garrafa novamente. Podemos apenas esperar e nos preparar. RUMO À REVOLUÇÃO NEGRA.

A defesa armada da comuna negra


"Nossa insistência na ação militar, defesa e retaliação, não tem nada a ver com romantismo ou precipitado fervor idealista. Queremos ser eficazes. Queremos viver. Nossa história nos ensina que as lutas de libertação bem sucedidas exigem um povo armado, um povo inteiro, participando ativamente na luta pela sua liberdade! "
 George Jackson, citado em Blood in My Eye

Temos de organizar unidades de autodefesa para proteger a comunidade negra e suas organizações. A polícia e o governo é que são os principais perpetradores de violência contra o povo negro. Todos os dias, lemos sobre a polícia assassinando e mutilando as pessoas da nossa comunidade, tudo em nome da "lei e da ordem." Esta brutalidade policial inclui o uso de força letal contra crianças a partir de cinco anos e idosos com mais de 75 anos de idade! Temos de desarmar e desmilitarizar a polícia, e forçá-los a deixar a nossa comunidade. Talvez isso possa ser feito depois de uma rebelião ou insurreição, ou talvez eles tenham que ser expulsos por uma força de guerrilha de rua, como o Exército de Libertação Negra tentou fazer na década de 1970. Eu não tenho nenhuma maneira de saber. Eu só sei que eles têm que ir embora. Eles são um exército de ocupação opressor, não são de nossa comunidade, não podem compreender os seus problemas, e não se identificam com o seu povo e suas necessidades. Além disso, é a corrupção dos policiais que protege o crime organizado e o vício em nossa comunidade, e o capitalismo com as suas condições econômicas de exploração, que é responsável por todos os crimes.

As forças policiais existentes devem ser substituídas por forças de autodefesa da própria comunidade negra, formada por membros da nossa comunidade eleitos ou nomeados por seus vizinhos para tal posição, ou a partir de uma força de guerrilha ou organização política existente nas ruas, se as pessoas concordarem. Eles estariam sujeitos à revogação imediata e demissão pelo conselho comunitário de controle de uma área. Só assim teremos o controle da comunidade sobre a força de autodefesa, e começaremos a lidar com o crime fratricida de negros contra negross, e seremos capazes de nos defender de ataques racistas ou policiais brancos. Com o aumento da violência racista branca hoje, e a possibilidade de ação de linchadores brancos no futuro, geralmente em nome de "lei e ordem", esta força de autodefesa da comunidade se torna mais importante. A única pergunta é: podemos fazer isso agora?

Nós estamos agora em condições de legalidade e direitos civis nominais, mas em algum momento no processo de construção, é inevitável que a estrutura de poder branco reconheça o perigo representado por uma comuna de negros livres e, então, vai tentar reprimi-la à força. Temos de ter a capacidade de autodefesa para resistir. Este conceito de organizar uma força de autodefesa aceita que algum nível de violência que vai ser necessário para fazer cumprir as demandas do povo e dos trabalhadores. No entanto, essas forças de autodefesa não seria um "partido de vanguarda", uma força policial, ou mesmo um exército permanente no sentido estatista comum, pois seriam uma milícia do povo negro, autogerida pelos trabalhadores e pela própria comunidade. Em outras palavras, o povo em armas. Essas organizações de milícias nos permitirão participar de ações ofensivas ou defensivas, tanto na defesa geral da comunidade, ou como parte de uma insurreição ou resistência clandestina.

Mas o que vamos fazer agora em condições de legalidade, para defender nossa comunidade de policiais racistas violentos? Será que devemos sentar e debater a adequação da preparação militar, quando o inimigo está na nossa comunidade agora, cometendo estupro e assassinato de pessoas negras ou devemos revidar? Ou vamos mesmo começar a espalhar a idéia entre o nosso povo e começar a treiná-lo para operações paramilitares? Em uma escala de massa, eu defendo a formação imediata de grupos de defesa e sobrevivência habilidades de estudo, sob o pretexto de clubes de tiro, sociedades de artes marciais, clubes de sobrevivência na selva ou qualquer outra coisa de que os chamemos. Um profundo conhecimento de pontaria, fabricação de munições, demolição e fabricação de armas é o mínimo para todos. Além disso, devemos estudar primeiros socorros referentes a lesões, traumatismos sofridos por armas de fogo e explosivos, comunicações de combate, armas de combate, táticas de combate para pequenos grupos, estratégia de combate para a região ou nação, combater a inteligência da polícia e atividades militares, entre outros assuntos. Estes temas são indispensáveis ​​para a vida clandestina ou durante uma insurreição geral.

Devemos colocar ênfase na compra, coleção, duplicação e divulgação de manuais militares, livros didáticos sobre armas, manuais de explosivos e demolições, manuais técnicos do governo e da polícia e edições piratas de manuais de direita sobre o assunto (já que parece que eles escrevem o melhor material nesta área), e também dar início ao estudo de como construir redes de inteligência para coletar informações sobre o rápido crescimento dos skinheads e outras organizações racistas totalitárias, junto com inteligência e informação de contrainteligência sobre a polícia secreta do governo e agências de aplicação da lei, como o FBI, CIA, ATF, etc, e qualquer outro assunto que possa ser de utilidade para nós na luta.

Mesmo que, nos Estados Unidos, o desenvolvimento de habilidades militares e de autodefesa seja mais simples do que em muitos outros países, porque as armas e munições são amplamente disponíveis, é lógico supor que a situação em breve se torne tão fechada que tornem as armas de fogo praticamente inalcançáveis, exceto por meio de um mercado negro caro, por causa da "guerra às drogas" do governo e de outras legislações de controle de armas proposta para prevenir a "violência de rua", como dizem (você acha que as lojas de artigos esportivos vão ficar abertas durante uma insurreição?) Portanto, devemos aprender a usar a tecnologia de máquinas-ferramenta para produzir nossas próprias armas. Armas de fogo perfeitamente adequadas podem ser produzidas usando um mínimo de recursos, desde que o indivíduo ou grupo esteja disposto a fazer os necessários estudo e preparação. Não é suficiente saber um pouco sobre estes assuntos, é uma questão de sobrevivência futura - de vida e morte, que se seja proficiente.

Não estou defendendo o lançamento imediato da guerrilha urbana, especialmente onde não há base de massas para tais atividades. O que eu estou defendendo, nesta fase, é autodefesa armada e o conhecimento de táticas para resistir à agressão militar contra a comunidade negra. É um traço tolo e infeliz entre os anarquistas, a esquerda branca e seções do movimento negro, condenar o estudo de habilidades militares como prematuro ou aventureiro, ou por outro lado, lançar-se em uma fúria cega de expropriações de bancos, seqüestros, atentados ou seqüestros de avião. Demasiadas pessoas do movimento têm uma abordagem mortífera sobre as armas - eles assumem que,se você não está "brincando", então você deve provar suas convicções através de um tiroteio suicida nas ruas. Não tem que ser assim.

Mas o movimento negro não pode sequer se dar ao luxo de tais debates mornos, e deve ter uma política de defesa armada, porque a América tem uma longa tradição de repressão política do governo e da violência paramilitar justiceira. Embora tais ataques tenham sido dirigidos principalmente a negros e outras nacionalidades oprimidas no passado, eles também foram direcionados a sindicatos e grupos políticos dissidentes. Tal violência torna absolutamente necessário adquirir familiaridade com armas de fogo e táticas militares. Na verdade, o movimento de resistência negro de que eu falei anteriormente deve pensar em si mesmo como um movimento paramilitar, em vez de uma associação estritamente política.

Temos de afirmar os nossos direitos à autodefesa armada e à revolução, embora seja verdade que há muito papo atravessado sobre armas, defesa pessoal, revolução, "guerrilha urbana" etc. nos movimentos negro e radical, mas com muito pouco estudo e prática sobre o manuseio e uso de armas. Algumas das mesmas pessoas pensam que "pegar em armas", significa que você pega uma pela primeira vez no dia de uma insurreição ou de confronto com a polícia. Isso é um absurdo e é o verdadeiro "suicídio revolucionário", você pode se matar sem saber o que você está fazendo. Mas muitos casos, atestar o fato de que a autodefesa armada da comunidade pode ser realizada com sucesso, tais como a resistência do MOVE na Filadélfia, a resistência armada da República da Nova África em Detroit e os casos de Mississippi e dos Panteras Negras. Mas tão importante quanto o próprio ato de defesa, é o fato de que essas instâncias de autodefesa bem-sucedidas tenham tido um tremendo impacto sobre a comunidade negra, estimulando outros atos de resistência.