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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Insurreição


Mas o que é uma rebelião e em que ela difere de uma insurreição? Uma insurreição é uma sublevação geral contra a estrutura de poder. É geralmente uma rebelião sustentada ao longo de dias, semanas, meses ou mesmo anos. É um tipo de guerra de classes que envolve toda uma população em um ato de resistência armada ou semiarmada. Às vezes erroneamente chamada de rebelião, seu caráter é muito mais combativo e revolucionário. Rebeliões são quase totalmente espontâneas, assuntos de curto prazo. Uma insurreição também não é a revolução, já que a revolução é um processo social, e não um único evento, mas pode ser uma parte importante da revolução, talvez a sua fase final. Uma insurreição é uma campanha de protesto violento planejado que leva a revolta espontânea das massas para um nível superior. Os revolucionários intervem para levar rebeliões à fase insurrecional, e a insurreição a uma revolução social. Não são grupos pequenas e isolados de guerrilheiros urbanos que fazem as ações, a menos que esses guerrilheiros façam parte de uma revolta maior.

A importância de reconhecer as verdadeiras diferenças de cada nível podem definir a nossa estratégia e tática nessa fase, e não nos levar prematuramente a uma ofensiva completa quando o inimigo ainda não está enfraquecido o bastante por ações de massa ou ataques políticos. A importância de também reconhecer as verdadeiras causas da revolta não pode ser subestimada. Os revolucionários anarquistas intervem em tais lutas para mostrar às pessoas como resistir e as possibilidades de ganhar a liberdade. Queremos dirigir as rebeliões do povo contra o Estado e usá-las para enfraquecer o domínio do capital. Queremos criar resistência em um prazo mais longo e criar zonas liberadas.Desconectar estas comunidades do Estado significa que essas rebeliões assumirão um caráter político consciente, como a Intifada palestina nos territórios ocupados por Israel no Oriente Médio. Criar a possibilidade de uma insurreição negra significa popularizar e difundir as várias rebeliões para outras cidades, estados e até países, e aumentá-las em número e frequência. Significa, também, conscientemente anular o poder do Estado, em vez de revoltas temporárias contra ele que acabam por preservar seu poder. Deve haver uma tentativa deliberada de acabar com o governo, e estabelecer o Poder Popular. Isso ainda não aconteceu nas várias revoltas negras que temos visto desde 1964, quando a primeira revolta moderna entrou em erupção em Harlem, Nova Iorque.

Na década de 1960, as comunidades negras em todos os EUA levantaram-se furiosamente em rebeliões de massa contra o Estado, exigindo justiça racial. Após a revolta no Harlem, nos próximos quatro anos, as principais rebeliões que balançaram os EUA foram em Watts, Los Angeles, Detroit, Chicago, e centenas de outras cidades norte-americanas. Atos isolados de brutalidade policial, a discriminação racial, habitações precárias, exploração econômica, "elementos marginais", o colapso dos "valores familiares", e uma série de outras "explicações" foram apresentadas pelo sociólogos liberais e conservadores, e outros encomendados pelo Estado para encobrir as verdadeiras causas. No entanto, nenhum deles as revelou como um protesto contra o sistema capitalista e a dominação colonial, mesmo que os cientistas sociais tenham "alertado" sobre a possibilidade de um novo surto de violência.

Mais uma vez, na primavera de 1992, vimos uma revolta maciça em Los Angeles, cujas causas imediatas foram relacionados com a absolvição ultrajante de policiais de Los Angeles que tinham brutalmente espancado Rodney King. Mas,novamente, esta foi apenas a gota dágua que entorna o balde; esta revolta não foi uma revolta apenas em solidariedade com Rodney King pessoalmente. A causa dessa rebelião foi a desigualdade social generalizada no sistema capitalista e o terrorismo da polícia. Desta vez, a rebelião se espalhou para 40 cidades e quatro países estrangeiros. E não foi apenas um chamada "distúrbio racial", mas sim uma revolta de classe que incluiu um grande número de latinos, brancos e até mesmo asiáticos. Mas foi, inegavelmente, uma revolta contra a injustiça racial em primeiro lugar, mesmo que não fosse apenas dirigida contra os brancos em geral, mas sim contra o sistema capitalista e os ricos. Não foi limitada apenas à periferia da área de Los Angeles, mas se espalhou até as áreas de classe alta de Hollywood, Ventura e além. Esta foi a fase inicial da luta de classes.

Se uma força militar clandestina existisse ou uma milícia fosse montada, ele poderia ter entrado no campo da batalha com mais armas e táticas avançadas. Foram as gangues que desempenharam esse papel, e muito bem. É por causa da sua participação que levou tanto tempo para derrotar a rebelião, mas mesmo elas não poderiam impedir o restabelecimento do poder branco em South Central Los Angeles. Não apenas por serem superadas militarmente, mas também porque elas não tinham nenhum programa político revolucionário, apesar de toda sua retórica ter sido radicalizada. Além disso, o estado foi extremamente duro com os rebeldes. Mais de 20.000 pessoas foram presas, 50 foram mortas e centenas feridas.

Poderia ter sido possível criar uma zona liberada, de modo que o poder dual fosse estabelecido? Essa possibilidade existia e ainda existe, se as pessoas forem devidamente armadas, e uma resistência armada de massas bem treinada poderia ter conquistado grandes concessões, uma das quais seria fazer a polícia recuar. Mas não sabemos, isso é pura especulação. O que sabemos é que esta não é a última rebelião em Los Angeles e outras cidades. Elas podem vir muito mais rápido, agora que o gênio da revolução urbana está fora da garrafa novamente. Podemos apenas esperar e nos preparar. RUMO À REVOLUÇÃO NEGRA.

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