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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

O desemprego e a falta de moradia


Nos primeiros três meses de 1993, o Bureau of Labour Statistics do Ministério do Trabalho dos EUA divulgou a taxa oficial de desemprego em 6 milhões de pessoas, ou apenas 7% da força de trabalho. No capitalismo, metade daquele número é “normal” e, absurdamente, é considerado pelos economistas capitalistas como “pleno emprego”, mesmo que signifique milhões de pessoas relegadas à pobreza do pior tipo. Mas os números do governo são intencionalmente conservadoras, e não incluem os que desistiram de procurar empregos, os subempregados (não ganham o suficiente para viver), trabalhadores em tempo parcial (não conseguiram arranjar um emprego em tempo integral)e os sem-teto, que hoje são entre 3 e 5 milhões.


Das 6 milhões de pessoas que o governo contra como desempregados hoje, menos de 3 milhões recebem seguro-desemprego ou outro auxílio do governo, os outros passam fome, roubam ou lutam pela sobrevivência. Uma pessoa sem emprego no capitalismo não vale nada. Cada trabalhador tem o direito humano a um emprego, mesmo assim, no capitalismo, os trabalhadores são demitidos em tempo de crise, superprodução, depressão ou simplesmente para economizar custos de pessoal com menos trabalhadores e mais cadência de trabalho. E alguns trabalhadores não conseguem empregos no mercao de trabalho capitalista por falta de habilidades ou discriminação racial ou social.


Mas os números do governo mentem, pesquisadores privados dizem que o número total de pessoas que querem empregos de tempo integral e não conseguem encontrar chega a quase 14,3 milhões de pessoas. Essa situação claramente é crítica em grandes proporções, mas tudo o que o governo faz é distorcer e esconder os números. Mas os números mostram sim que os negros, latinos e e mulheres estão carregando o fardo da atual depressão. A National Urban League no seu "Bidden Unemployment Index" (incluído no seu relatório anual "State of Black America") mostra níveis de 15-38% para adultos negros acima de 25 anos e níveis incríveis de 44-55% para adolescentes e jovens adultos (17-24 anos). Na verdade, o desemprego da juventude negra não diminuiu desde a recessão de 1974-1975. Ele continuou no nível oficial de 35-40% mas, nas maiores cidades, comoDetroit, Chicago, Philadelphia e Los Angeles, a verdadeira taxa de desemprego é de cerca de 70%. Para a juventude negra, a taxa de desemprego é de três a cinco vezes maior que a da juventude branca. O capitalismo está transformado todo o povo negro em exilados econômicos. O fato é que o desemprego é concentrado nas comunidades negras e hispânicas, e é um grande responsável pelas tendências mais destrutivas nas relações humanas e pela deterioração dos bairros. Crime, prostituição, suicídio, vício em drogas, brigas de gangues, doenças mentais, alcoolismo, a destruição das famílias negras e outras mazelas sociais – todos são baseados na falta de trabalho ena negação dos serviços sociais essenciais nas comunidades. É, realmente, genocídio racial em forma de negligência social.


O desemprego é lucrativo para os patrões porque ele empurra para baixo os salários dos trabalhadores, e ajuda os empregadores a manterem a força de trabalho sob controle através do seu “exército industrial de reserva”, que dizem que sempre está preparado para furar as greves. Por causa da discriminação geral contra os negros, latinos e outros trabalhadores nacionalmente oprimidos, incluindo níveis maiores de desemprego, os trabalhos que eles conseguem geralmente são os piores. Isso também é lucrativo para os patrões, e divide a classe operária.


A falta de moradia é apenas a forma mais intensificada de desemprego, onde, além da falta de trabalho e renda, há perda de moradia e de acesso aos serviços sociais. Existem milhões de pessoas sem teto desde os últimos 15 anos, por causa da ofensiva capitalista para destruir os sindicatos, destruir as conquistas da luta pelos direitos civis, e acabar com o setor de moradias populares em favor da gentrificação yuppie das cidades. Você pode vê-los nas cidades grandes e pequenas, e isso reflete um colapso total do sistema de serviço social do Estado, junto com o aquecimento da luta de classes da parte do governo e das grandes corporações. Isso mostra, no mínimo, que o capitalismo mundial está num período de pânico financeiro internacional, e está realmente nos estágios iniciais de uma depressão mundial. Junto com as 90 milhões de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza e os 3 a 5 milhões de sem-tetos nos EUA, existem outros 2.7 milhões nos doze países da comunidade europeia, e 80 milhões na pobreza lá, com mais outros milhões nos países capitalistas do Japão, Coreia do Sul e outras partes da Ásia. Então, mesmo que os trabalhadores negros precisem se organizar e lutar contra a falta de moradia e o desemprego nos EUA, deve claramente existir um movimento internacional dos trabalhadores para lutar contra essa privação econômica, como parte da luta de classes geral. Em cada cidade da América do Norte, o movimento dos trabalhadores negros deve organizar conselhos de desempregados para lutar por seguro-desemprego e empregos, pela construção de casas populares decentes e baratas e pelo fim da falta de moradia, e também contra a discriminação racial nos empregos e na moradia. Esses conselhos devem ser organizações democráticas, organizadas por bairro (para garantir que fiquem sob controle do povo, e protegê-los de infiltração e aparelhamento por partidos liberais ou “radicais” ou cooptação pelo governo), que seriam federadas em nível municipal, regional e nacional. Essa organização seria uma liga negra de desempregados, para criar um movimento de resistência de massas nessa depressão. Ela seria formada de conselhos de desempregados da comunidade negra de todo o país, com delegados eleitos de todos os grupos locais. Essa organização nacional poderia organizar um ataque em grande escala contra o desemprego, e também servir para o monitoramento nacional das condições de desemprego dos negros.


No nível local dos bairros negros, seriam os conselhos de desempregados comunitários que criariam cooperativas de alimentação e moradia, dirigir greves de alugueis e ocupações, começar projetos de luta por terra e moradia, criar cooperativas de produtores e consumidores, distribuir comidas e roupas, e prover outros serviços: eles criariam clínicas médicas de bairro para cuidar gratuitamente dos sem-teto e desempregados, programas de controle de roedores etc, e lidariam com os problemas sociais da comunidade (trazidos pelo desemprego), e outros assuntos de interesse. Eles organizariam marchas de famintos e outras manifestações, e conduziriam a ira popular contra os vários governos e negócios dos ricos. Os conselhos de desempregados não somente seriam uma forma de lutar por emprego e benefícios, como também seriam uma forma de conquistar uma boa dose de autossuficiência e democracia direta comunitárias, em vez de depender totalmente da prefeitura, do congresso ou do presidente, etambém ajudariam a criar o tipo de confiança entre as massas para que uma comuna negra municipal se torne uma possibilidade séria.

Uma das funções mais importantes de um movimento de desempregados é conseguir a unidade entre os empregados e os desempregados ou sem-teto, e a solidariedade operária através das linhas raciais. Os empregados e os desempregados devem trabalhar juntos para lutar contra a patronal, se quiserem ter alguma conquista real nesse período de crise econômica. Os trabalhadores que estão em greve ou protestando contra os patrões seriam apoiados pelos desempregados, que até mesmo poderiam ir para os piquetes junto com eles e se recusarem a furar greve. Por sua vez, os trabalhadores poderiam formar comitês de desempregados para permitir a representação sindical desses trabalhadores e também para forçar os sindicatos a providenciarem comida e outras necessidades, garantirem dinheiro e treinamento para os desempregados, assim como usar o peso dos sindicatos para lutar por trabalho e moradia decentes para todos os trabalhadores. Os capitalistas não vão recuar sem isso. QUE OS RICOS PAGUEM PELA CRISE!



Aqui estão as reivindicações que um movimento unificado de desempregados e sem-teto deve fazer:
§ Pleno emprego (desemprego zero) para todos os trabalhadores, com todos os direitos trabalhistas.
§ Redução da jornada de trabalho, para que os trabalhadores trabalhem de 20 a 30 horas por semana e recebam por 40.
§ Fim da falta de moradia, construir e disponibilizar moradias populares decentes e baratas para todos. Fim de todas as leis contra os sem-teto.
§ Fim do orçamento militar, e uso desses fundos para moradias populares decentes e baratas, melhores escolas e hospitais, bibliotecas, parques e transporte público.
§ Fim do sexismo e do racismo nas oportunidades de emprego e concessão de benefícios..
§ Trabalho ou renda garantida para todos.
§ Benefícios federais e estaduais para os trabalhadores desempregados e suas famílias, incluindo os fundos governamentais e corporativos para pagar as contas, rendas e dívidas para qualquer trabalhador demitido, e seguro-desemprego a 100% do salário pago regular, com duração o período de desemprego do trabalhador.
§ Salário mínimo nacional fixado pelos contratos coletivos.
§ Que o governo e os fundos corporativosestabeleçam um programa de obras públicas para gerar empregos (com direitos sindicais plenos e escala salarial) para reconstruir as periferias e garantir os serviços sociais necessários. O programa e os seus fundos devem estar sob o controle de comitês democraticamente eleitos pelos bairros pobres e negros, de modo a evitar "cafetões da pobreza" e as agências de emprego ou burocratas do governo.
§Libertar todas as pessoas na prisão por crimes de sobrevivência econômica.

Estes, e as exigências mencionadas anteriormente, são meramente um programa de sobrevivência e agenda para os trabalhadores desempregados; a verdadeira resposta é a revolução social e a eliminação do capitalismo, e a autogestão da economia e da sociedade pelos trabalhadores. Entretanto, este é um primeiro passo vital. Não haveria desemprego ou necessidade social por trabalho assalariado em uma sociedade anarquista-comunista.

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